O Roger do Ultraje vai responder este texto

Atualizado em 4 de fevereiro de 2015 às 16:13

roger

 

 

Roger Rocha Moreira tinha 28 anos quando lançou um hino dos anos 80, “Inútil”. Suas músicas no Ultraje a Rigor eram engraçadas, numa tradição que remonta a Adoniran Barbosa e Mutantes (embora ou dois últimos infinitamente mais talentosos). Estranhamente, o passatempo de Roger nos dias de hoje, aos 58 anos, não é compor nada, mas brigar com “petralhas e comunistas de Twitter e Facebook”.

Trolador desequilibrado, ele já bateu boca com o ator José de Abreu — um é obcecado pelo outro –, com o cientista Miguel Nicolelis, com o escritor Marcelo Rubens Paiva e com basicamente todo mundo que ele julgue “esquerdopata”.

A última foi xingar e bloquear um simples site que cobre o setor de videogames, chamado Bonus Stage. Uma pergunta que questione o fanatismo de Roger é capaz de transformá-lo numa besta virtual.

Foi isso que o pessoal do Bonus Stage fez. Nesta última segunda-feira (2), a Warner Bros e a Electronic Arts (EA) anunciaram que ele dublará o policial Nick Mendoza do novo game de tiro “Battlefield: Hardline”. O personagem com a voz do nosso querido reaça perseguirá seus ex-colegas corruptos nos Estados Unidos.

A notícia provocou reações negativas e algumas poucas positivas dos fãs do Derico do Gentili. “Bem que o Roger avisou que ia invadir minha praia”, escreveu um. “Volto do almoço pra descobrir que o ele vai dublar Battlefield (risos). São vocês que financiam essas merdas de jogos aê”, escreveu outro. “Já que botaram o Roger pra dublar Battlefield, podiam colocar o Mainardi pra dublar, sei lá, Tropico”, afirmou outro. “O vacilão vai dublar o Battlefield Hardline? Cancelando a minha pré-venda”.

Essas foram só algumas das postagens divertidas. Eu mesmo mandei duas mensagens para ele no Twitter: “O Roger podia me desbloquear pra gente bater papo sobre o novo Battlefield, né? Vamos deixar as intrigas de lado. Ele dublando o novo Battlefield é quase o Olavo de Carvalho fazendo o remake de Wolfenstein, né? Saudoso Olavostein”.

Tudo o que o Bonus Stage fez foi reunir esses tuítes em um texto mostrando a repercussão da escolha da EA e da Warner.

E o que ele fez?

Mandou uma imagem com a mensagem “cagando pra sua opinião”. Rodrigo Sanches, que edita o Bonus Stage, respondeu. Roger retrucou se gabando de 2180 visitas no vídeo de divulgação da Warner e da EA do seu trabalho de dublagem. Rodrigo respondeu mais uma vez tirando sarro com a pontuação de um jogo e depois debochou do suposto QI alto do cantor.

O cantor descobriu o blog graças a buscas que faz sobre seu próprio nome e sobre suas menções no Twitter. Tudo o que é dito sobre ele é rastreado de maneira doentia por ele mesmo. E Roger Moreira faz questão de responder com sua falta de educação habitual. É o maníaco do “egosearch”, uma busca por si mesmo.

Roger não sabe mais dialogar com a juventude, seja ela de qual tendência política for. Seu jeito de tiozão esquisito esconde um perfil autoritário que não tolera crítica. O texto do site de videogames não chamava o cantor de reaça e nem traçava especulações sobre suas preferências políticas.

Roger não tem nada a ver com o mundo dos games. Um músico sem experiência com dublagem, sexagenário, que toca covers medíocres num talk show, é uma péssima escolha.

Ele realmente acredita que quem não gosta do que ele faz está a serviço do PT e do comunismo internacional. Peter Dinklage, o anão Tyrion de Game of Thrones, irá dublar personagens do filme do game Angry Birds. Kevin Spacey, o Frank Underwood do seriado House of Cards, já encarnou em um personagem do jogo Call of Duty. Dubladores no Brasil não costumam ganhar muito dinheiro por seus trabalhos, ficando na faixa de 5 mil reais por trabalho.

Roger não cria nada há mais de 10 anos e se pendura num comediante. Deixou de fazer letras engraçadas e provocantes para tornar-se ele mesmo uma piada ambulante.

Como Roger Moreira não abandona o egosearch, é provável que encontre esse texto. Quando encontrar, vai me xingar. O velho reaça é, além de tudo, previsível.