Por que o The Voice vai bem quando a Globo vai mal de audiência

Atualizado em 24 de outubro de 2014 às 16:07
Não é todo dia que você ouve Luiz Gonzaga na tevê
Não é todo dia que você ouve Luiz Gonzaga na tevê

Em Londres, logo sucumbi à gritaria do The Voice.

Vocês podem imaginar o que é Tom Jones no comando do programa.

Mesmo com o padrão BBC de qualidade, não aguentei. Os candidatos tinham que berrar para sobreviver.

Piaf não passaria nem pela triagem. João Gilberto seria enxotado de cara.

Vi que no Brasil o programa é a coisa da Globo que mais funcionou em 2013. Talvez a única. Tudo na Globo despenca em audiência, das novelas ao Jornal Nacional, mas o The Voice foi uma exceção. Tem cerca de 28 pontos no Ibope, o que para a Globo 2013, dos espectadores minguantes,  é uma façanha.

Tentei entender. Aleatoriamente, vi na internet cenas do programa.

E enxerguei o óbvio: o The Voice Brasil é melhor que o inglês porque o repertório escolhido é melhor.

E porque os participantes gritam menos. Em alguns casos, não gritam, ou quase não gritam.

Tive talvez a sorte de ver, de cara, a cantora Lucy Alves. Não é todo dia que você vê alguém com uma sanfona. Paraibana, com o sotaque nordestino preservado, 27 anos, ela cantou “Qui nem Jiló”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

Isto é Brasil, e eu gosto.

Bonita, doce, respeitou a natureza suave da música.

Gostei de Carlinhos Brown. Imediatamente, ao ouvir a sanfona, apertou o botão que faz virar a cadeira e simboliza a aprovação.

Viajei no tempo, também, ao ouvir um candidato cantar BR3, uma belíssima música de minha juventude. E da de Lulu Santos, que chorou ao ouvi-la.

Por incrível que pareça, mesmo se tratando de versões compactas, o excelente cantor conseguiu esquecer um pedaço de letra, e acabou eliminado.

No YouTube, achei algumas coisas. Duro é ver no site da Globo.

Você percebe lá como o lado comercial comanda tudo na emissora, e como isso vai acabar lhe custando caro na internet por contrariar a cultura dos internautas.

No YouTube, você pode eliminar a propaganda depois de cinco segundos. Na Globo, você é obrigado a engolir o comercial inteiro de 30 segundos.

Muitos internautas devem estar abominando a Red Bull por causa disso. Você não consegue ir de uma música a outra sem ver o mesmo comercial.

É o jeito Globo de ser, em sua volúpia monstruosa por moedas, e imagino que os próprios anunciantes vão perceber quanto isso é negativo na internet.

Mas do programa gostei – não o suficiente, é verdade, para assistir nas noites de quinta.

Mas entendi por que, entre tantas más notícias no Ibope para a Globo, o The Voice vai bem.