
Após a conclusão da comissão de inquérito da ONU que apontou Israel como responsável por genocídio contra palestinos em Gaza, cresce o movimento internacional por sanções também no esporte.
Uma possível suspensão de Israel das competições de futebol organizadas pela Uefa pode ser votada nos próximos dias. A seleção israelense participa atualmente das eliminatórias europeias para a Copa do Mundo, enquanto o clube Maccabi Tel Aviv disputa a Liga Europa. A pressão política e institucional aumenta nos bastidores, e o tema já chegou às instâncias mais altas do futebol europeu.
O desejo entre vários dirigentes de futebol seria aplicar a mesma lógica usada contra a Rússia em 2022, quando o país foi retirado de todas as competições após a invasão da Ucrânia. A Uefa estaria inclinada a agir, mas busca garantir respaldo político e jurídico antes de convocar uma reunião formal do Comitê Executivo, que é o órgão responsável por decisões desse porte.
A Federação Turca de Futebol foi a primeira a pedir publicamente o banimento de Israel, afirmando que o mundo esportivo tem ignorado por tempo demais a gravidade da situação em Gaza. Um grupo de 48 atletas, incluindo nomes como Hakim Ziyech (ex-Chelsea), Cheick Doucouré (Crystal Palace) e Moeen Ali (ex-jogador da seleção inglesa de críquete), publicou uma carta aberta exigindo que a Uefa suspenda Israel até que o país “cumpra o direito internacional e encerre a matança de civis”.
O texto afirma que “o esporte não pode ser neutro diante da injustiça” e acusa a inércia das entidades de legitimar mortes de inocentes.
Caso a votação ocorra, ela será realizada de forma fechada pelo Comitê Executivo da Uefa, composto por 20 membros — entre eles, o israelense Moshe Zuares, eleito neste ano. A estrutura do comitê inclui 16 dirigentes eleitos pelas federações nacionais, dois representantes da Associação Europeia de Clubes (ECA) e um das Ligas Europeias.
Uma decisão requer maioria simples: 11 votos a favor seriam suficientes para suspender Israel de forma imediata, com efeitos diretos sobre as Eliminatórias da Copa de 2026. Como a Uefa é responsável pelas vagas europeias no torneio, a exclusão da seleção israelense tiraria o país da rota para a próxima edição, que terá sede nos Estados Unidos, Canadá e México.
A reação do governo estadunidense foi rápida. O Departamento de Estado já sinalizou que resistirá a qualquer esforço para impedir a participação israelense, especialmente por se tratar de uma Copa em solo americano. A aliança entre o presidente Donald Trump e o premiê Benjamin Netanyahu é bem documentada, e o tema passou a fazer parte das disputas diplomáticas.
O presidente da Fifa, Gianni Infantino, tem relação próxima com Trump e até entregou pessoalmente o troféu da Copa do Mundo de Clubes na Casa Branca. Até o momento, a Fifa não respondeu se ratificaria uma eventual decisão da Uefa.

O episódio acentua a crítica de que existe uma disparidade de tratamento nas sanções esportivas. O zagueiro espanhol Hector Bellerín, atualmente no Real Betis, questionou a diferença de postura em relação à Rússia. “Quando começou a guerra na Ucrânia, a Rússia foi proibida de competir em qualquer esporte. Por que agora a régua é outra?”, disse.
O jogador lembrou o número crescente de mortos em Gaza e afirmou esperar que mais atletas se posicionem. A Federação Palestina de Futebol diz que 421 jogadores morreram desde o início dos bombardeios, sendo 103 crianças.
A Uefa, historicamente resistente a sanções políticas, pode estar mudando de postura. Em agosto, antes da Supercopa Europeia entre PSG e Tottenham, faixas com os dizeres “Parem de matar civis” e “Parem de matar crianças” foram colocadas em campo — algo raro em um torneio oficial.
Mas a crítica contra a entidade também cresceu após a morte do jogador palestino Suleiman al-Obeid, relatada pela Federação Palestina como causada por um ataque aéreo enquanto ele aguardava ajuda humanitária.