Por que os atos do MPL estão esvaziando. Por Mauro Donato

Atualizado em 27 de janeiro de 2016 às 8:43
A recepção da PM ao MPL no metrô de SP
A recepção da PM ao MPL no metrô de SP

 

Em todo o mundo o metrô é palco para inúmeros artistas. Aqui temos um diferencial: os próprios agentes de segurança do metrô é que precisam de platéia. Há conjuntos musicais formados só por seguranças que se apresentam nas estações, há subcelebridades envaidecidas por suposta beleza e, suprassumo tropical, temos profetas.

Ao término de mais um protesto contra o aumento da tarifa, a estação Anhangabaú estava com os portões fechados. Motivo? Nossos videntes previram um catracaço.

A manifestação de ontem foi a menor até agora, comprovando que a estratégia da polícia de impor medo e ferir pessoas funciona. Transcorreu sem nenhum tipo de problema do início ao fim. E note-se que até adolescentes haviam mostrado maturidade em não reagir às provocativas ‘paradinhas’ do cordão de policiais que atualmente tem ido à frente e ditado o ritmo.

Sim, além dos cordões laterais e de todo aparato motorizado que vai atrás, agora uma linha de PMs vai numa espécie de abre alas às avessas. Caminham de costas, ficando cara a cara com os manifestantes e promovendo pausas que deixam todos espremidos e próximos o suficiente para que um simples encontrão nos escudos sirva de ignição para a garoa de sprays de pimenta e bombas de vários tipos.

Ainda assim com o ato concluído em frente à Câmara Municipal, relativamente longe dali, o metrô deu-se ao luxo de cerrar os portões. Ao menos uma mulher grávida e centenas de pessoas que voltavam do trabalho estavam impedidos de entrar na estação Anhagabaú pois alguns manifestantes poderiam pular as catracas. É obvio que um princípio de tumulto teve início e a Tropa de Choque foi acionada.

Curioso como o entendimento do direito de ir e vir é flutuante. Os últimos dias foram permeados pela discussão a respeito da necessidade de se informar o trajeto a ser realizado pois “a não comunicação prejudica o direito de ir e vir dos moradores da cidade”. E aí o metrô fecha as portas. Dá para entender?

Das seis manifestações convocadas pelo MPL este ano, nas últimas três o metrô agiu dessa forma e em duas delas foram as únicas situações de confusão do dia.

Seria patética se não fosse maldosa essa atitude das autoridades de bloquearem uma rua para evitar que os manifestantes fechem-na, de fechar portões de estações de metrô ou ainda bloquear um terminal de ônibus (no penúltimo ato o terminal Dom Pedro foi evacuado, fechado e tomado pela polícia em virtude da concentração dos manifestantes do lado de fora, na praça em frente. Em nenhum momento foi pedido para fechar nada, essa ação é deliberada e gratuita).

É evidente que se trata de uma estratégia para jogar a população contra a manifestação. Assim também tem feito o metrô que é responsabilidade do governo estadual. Fecha as portas e prejudica a maioria para ‘proteger o patrimônio’ de meia dúzias de catracas pelo medo que meia dúzia de pessoas passem sem pagar. Uma grávida pode ficar do lado de fora e sujeita ao ataque da Tropa de Choque, mas as catracas estarão preservadas.

E se o leitor acredita que isso não é seletivo, saiba que para uma determinada categoria de manifestantes as catracas são liberadas para incentivar a adesão e ampliar o número de pessoas na avenida. Se em vez de trajar preto o manifestante estiver de verde e amarelo, o metrô abre as portas e as pernas.