Por que os cientistas aceitaram a censura de Pazuello? Por Moisés Mendes

Atualizado em 15 de dezembro de 2020 às 12:06

Publicado no Blog do Moisés Mendes

O ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello Foto: Alan Santos/PR

Ficamos sabendo só agora que a primeira reunião virtual de Eduardo Pazuello com um grupo de pesquisadores, no dia 1º de dezembro, foi humilhante para os convidados.

Técnicos e cientistas, especialistas em epidemias e em saúde pública, haviam sido chamados a ajudar o governo na montagem do plano de vacinação contra a Covid-19.

E o que fez o ministro? Falou sobre o que pensa que sabe (e se sabe que ele não sabe nada) e não ouviu ninguém. Os microfones dos cientistas estavam bloqueados.

Os técnicos só poderiam perguntar ou fazer algum comentário por escrito, em mensagens dentro do aplicativo. A reunião aconteceu sem que ninguém falasse, só Pazuello e seus ‘assessores’. E nunca as perguntas feitas por escrito foram respondidas.

Noticiam hoje que a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), uma das entidades que representam os especialistas, vai enviar carta ao Supremo informando que eles não participaram da elaboração do plano de vacinação.

Não participaram, mas foram citados no plano fajuto enviado ao próprio Supremo. Os cientistas foram usados por Bolsonaro para tentar validar o plano que não existe.

E aí surge uma pergunta inevitável. A reunião aconteceu no dia 1º de dezembro. Por que só agora ficamos sabendo da censura imposta por Pazuello, certamente por ordem de Bolsonaro?

Por que os participantes da reunião ficaram todo o tempo sem poder falar e continuaram calados até a divulgação do falso plano, no dia 12? Ou alguém denunciou a censura e não ficamos sabendo?

É difícil a situação dos cientistas. Se não participam do plano, podem ser acusados de omissão e boicote. Se tentam participar, são boicotados pelo próprio governo.

E podem até ser acusados de colaboracionismo com gente dedicada muito mais a um projeto de extermínios do que de imunização.

Mas não poderiam ter ficado em silêncio depois da experiência grotesca da reunião censurada. Os cientistas esperaram 12 dias para se manifestar. Foi quando denunciarem que seus nomes estavam num plano que não assinaram. Mas deveriam ter denunciado também a censura.

Bolsonaro e Pazuello criaram armadilhas para todos. Quem souber como sair da arapuca que se manifeste.
O certo seria derrubar Bolsonaro e a estrutura fascista que o sustenta, para que as pessoas fossem salvas.

Mas o sujeito tem apoio de 37% da população. Só seria possível se, em vez de brasileiros, fôssemos bolivianos. Não chegamos ainda ao estágio deles de compreensão da política e de comprometimento com a democracia.