Por que os Estados Unidos espionam o Brasil (ou: como você não pensou nisso antes?)

Atualizado em 2 de outubro de 2014 às 16:57

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Carlos Alberto Montaner é um jornalista e escritor bastante influente junto à comunidade hispânica nos Estados Unidos. Cubano, exilado desde 1959 sob a acusação de colaborar com a CIA (ele nega), é autor de mais de 25 livros. Suas colunas são publicadas em diversos jornais. O maior deles é o Miami Herald, um dos porta-vozes dos exilados cubanos nos Estados Unidos. Em 1970, mudou-se dos EUA para a Espanha.

Montaner é também autor, junto com Mario Vargas Llosa e Plinio Apuleyo Mendonza, do “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”. Já disse que o Brasil é “um gigante com pés de barro e uma bola de futebol no lugar da cabeça”. Num artigo sobre os protestos de junho, afirmou o seguinte: “Dilma Rousseff, demagógica, apoiou os manifestantes, como se eles não fossem protestos contra seu governo. Mas o Brasil, por mais de uma década, tem sido governado pela esquerda e a sociedade começa a dizer que o Partido dos Trabalhadores consiste de ladrões e canalhas que conseguem gozar de impunidade. Hipócritas perfeitos que, sem abandonar o discurso da reivindicação dos pobres, têm sido tão corruptos quanto a direito e o centro, mas muito menos eficientes.”

A última de Montaner é uma coluna sobre o discurso de Dilma na ONU. Ele narra um suposto encontro com um “ex-embaixador americano”. Montaner conta que esse homem lhe explicou por que os Estados Unidos espionam — e continuarão espionando — o Brasil. Se o encontro realmente aconteceu, é espantoso como o embaixador repete as ideias de Montaner em detalhes, transformando tudo num grande embate ideológico e numa conpirata anti-comunista.

Eis a explicação para a espionagem do governo Obama, segundo Montaner. Como é que você não pensou nisso antes?

A presidente Dilma Rousseff do Brasil cancelou sua visita ao presidente Obama. Ela se sentiu ofendida porque os Estados Unidos foram espreitar seu correio eletrônico. Você não faz isso com um país amigo. A informação, provavelmente confiável, foi fornecida por Edward Snowden de seu refúgio em Moscou.

Intrigado, perguntei a um ex-embaixador dos EUA: “Por que eles fazem isso?” Sua explicação foi duramente franca:

“Do ponto de vista de Washington, o governo brasileiro não é exatamente amigável. Por definição e história, o Brasil é um país amigo que ficou do nosso lado durante a II Guerra Mundial e a Coréia, mas o atual governo é diferente”.

O embaixador e eu somos velhos amigos. “Posso identificá-lo pelo nome?”, perguntei. “Não”, respondeu ele. “Isso criaria um enorme problema para mim. Mas você pode transcrever nossa conversa”. É o que faço aqui.

Tudo o que você tem a fazer é ler os registros do Foro de São Paulo e observar a conduta do governo brasileiro “, disse ele . “Os amigos de Luís Inácio Lula da Silva, de Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores são os inimigos dos Estados Unidos: chavistas na Venezuela, primeiro com (Hugo) Chávez e agora com (Nicolás) Maduro; a Cuba de Raúl Castro, Irã, a Bolívia de Evo Morales, Líbia, a Síria de Bashar Assad.

“Em quase todos os conflitos, o governo brasileiro se alinha com Rússia e China e não com o ponto de vista do Departamento de Estado dos EUA e da Casa Branca . Sua família ideológica mais parecida é a dos BRICS, com quem tenta conciliar sua política externa. 

“A grande nação sul-americana não tem nem manifesta a menor vontade de defender os princípios democráticos que são sistematicamente violados em Cuba. Pelo contrário, o ex-presidente Lula da Silva , muitas vezes, levou investidores à ilha para fortalecer a ditadura dos Castros. O dinheiro investido pelos brasileiros no desenvolvimento do super- porto de Mariel, próximo a Havana, é estimado em US $ 1 bilhão.

“A influência cubana no Brasil é secreta, mas muito intensa. José Dirceu, ex-chefe de gabinete e ministro mais influente de Lula da Silva, tinha sido um agente dos serviços de inteligência cubanos. No exílio em Cuba, teve o rosto cirurgicamente alterado. Ele voltou para o Brasil com uma nova identidade (Carlos Henrique Gouveia de Mello, um comerciante judeu) e permaneceu assim até que a democracia foi restaurada. De mãos dadas com Lula, colocou o Brasil entre os principais colaboradores da ditadura cubana. Ele caiu em desgraça porque era corrupto, mas nunca recuou um centímetro de suas preferências ideológicas e de sua cumplicidade com Havana.

“Algo semelhante está acontecendo com o Professor Marco Aurélio Garcia, atual assessor de política externa de Dilma Rousseff. Ele é um contumaz anti-ianque, pior mesmo do que Dirceu porque é mais inteligente e tinha uma melhor formação. Ele fará tudo o que puder para frustrar os Estados Unidos.

“Para o Itamaraty – um ministério conhecido pela qualidade dos seus diplomatas, em geral poliglotas e bem-educados -, a Carta Democrática assinada em Lima, em 2001, é apenas um pedaço de papel sem qualquer importância . O governo simplesmente ignora as fraudes eleitorais cometidas na Venezuela ou na Nicarágua e é totalmente indiferente a quaisquer abusos contra a liberdade de imprensa.

“Mas isso não é tudo. Há outras duas questões sobre as quais os Estados Unidos querem ser informados sobre tudo o que acontece no Brasil, pois, de uma forma ou de outra, afetam a segurança dos Estados Unidos: a corrupção e as drogas.

“O Brasil é um país notoriamente corrupto e as más práticas afetam as leis dos Estados Unidos de duas maneiras: quando os brasileiros utilizam o sistema financeiro americano e quando eles competem de forma desleal com empresas norte-americanas, recorrendo a subornos ou comissões ilegais .

“A questão das drogas é diferente. A produção de coca boliviana se multiplicou cinco vezes desde que Evo Morales assumiu a presidência, e a saída para essa substância é o Brasil. Quase tudo acaba na Europa, e os nossos aliados nos pediram para obter informações. Essa informação, por vezes, está nas mãos de políticos brasileiros”.

Minhas duas últimas perguntas são inevitáveis. Washington vai apoiar a candidatura do Brasil a membro permanente no Conselho de Segurança da ONU?

“Se você quer saber minha opinião, não”, diz ele. “Nós já temos dois adversários permanentes: Rússia e China. Não precisamos de um terceiro.”

Finalmente, será que os Estados Unidos continuam espionando o Brasil?

“É claro”, ele me diz .”É nossa responsabilidade com a sociedade dos EUA. “

Acho que Dona Dilma deve mudar seus endereços de e-mail com maior freqüência.

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