Por que os evangélicos trocaram os judeus pelos gays em sua pregação de ódio. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 28 de junho de 2018 às 15:12
Rozangela Justino reza na Câmara

 

De todas as excrescências que temos testemunhado no pós-normal brasileiro, o caso da psicóloga e “missionária” Rozangela Alves Justino bateu alguns recordes.

Rozangela foi a autora de uma ação na Justiça do Distrito Federal pedindo autorização para a “cura gay”.

Funcionária do deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), ela se diz presidente de uma certa Associação Brasileira de Psicólogos em Ação, Abrapsia.

Rozangela compartilha nas redes trechos de suas pregações.

“Estão instituindo o caos social. Poucos vão estar sobrevivendo (sic). Está sendo preparada uma ilha para poucos desfrutarem de todas as riquezas das nações. Vejo que esta questão da liberação sexual de crianças é um problema de soberania nacional”, diz numa delas.

Num vídeo de 2014, ela afirmava que a resolução do Conselho Federal de Psicologia que proibia o tratamento de “reversão de sexualidade” era “discriminatória, preconceituosa, nazista”.

Sóstenes é pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, liderada por Silas Malafaia, um guerreiro do povo brasileiro contra “gayzistas”.

Rozangela odeia homossexuais tanto Silas e seus colegas. Esses lixos humanos não podem ser o que são. Em nome de Deus, ela vai sanar a moléstia, por bem ou por mal. E ganhar uma grana, evidentemente.

Noves fora o fato de que a pastora tem claramente alguns parafusos a menos, ela não está sozinha nessa fixação. Muito pelo contrário. Nem aqui, nem lá fora.

Esta se tornou uma questão central para evangélicos fundamentalistas no mundo todo.

De acordo com o professor americano Austin Cline, da Universidade da Pensilvânia, “o ‘pecado’ da homossexualidade é importante porque a direita evangélica precisa de algum grupo para atacar como parte de seu esforço para restaurar sua dominação social, cultural e política”.

A desculpa é a defesa dos “valores da família”. “Não é mais socialmente aceitável atacar judeus, os antigos bodes expiatórios destes cristãos”, diz Cline.

“Ateus e humanistas continuam alvos fáceis, mas eles não têm o mesmo impacto emocional dos gays (embora os três possam ser alvejados da mesma maneira que os judeus costumavam ser)”.

Um pastor episcopal chamado Tom Ehrich, escritor, baseado em Nova York, fez uma autocrítica.

Afirma que a “agenda política ‘cristã’ tornou-se nada mais do que eleger candidatos que irão lidar corretamente com temas como o aborto e a homossexualidade”.

“Nós falamos que nos importamos com as Escrituras, mas os versos que pegamos da Bíblia sobre, digamos, homossexualidade não significam reverência pelas Escrituras. Prova: nós nos sentimos livres para ignorar o que o resto da Bíblia prega”.

Para ele, “denominações religiosas inteiras reduziram sua mensagem pública a regulamentações sobre sexo. É como se os quatro evangelhos não fossem suficientes. Seria necessário escrever um novo livro para Deus, em que o propósito da humanidade se reduzisse aos genitais e aos gêneros”.

Tente pedir para um fanático religioso explicar o que é “ideologia de gênero” e ganhe um pirulito se compreender. Só não peça para ele te dar.