Por que pastores evangélicos estão se matando?

Atualizado em 17 de janeiro de 2019 às 6:54

Publicado no blog do Paulo Lopes

Seis pastores evangélicos se suicidaram apenas de novembro de 2018 a janeiro de 2019, até esta primeira quinzena.

Por quê?

É difícil ter uma resposta, até porque não há dados suficientes para um estudo do problema.

No noticiário, tem aparecido muito suicídio de pastores, mas trata-se de uma ocorrência que passou a ser mais noticiada ou de fato tem havido mais esse tipo de morte?

Se tem havido, o percentual de aumento é compatível com os suicídios que ocorrem na população em geral? E com a de padres?

Os índices mostram que os suicídios têm aumentado, principalmente entre os jovens e os mais velhos. Por que os pastores seriam exceções?

É verdade que, no caso dos pastores, há uma agravante: se o sujeito que deve dar amparo espiritual às pessoas é o primeiro a enfiar uma bala na cabeça ou uma corda no pescoço, é porque algo de profundamente grave está ocorrendo com esses “homens de Deus”.

O reverendo presbiteriano Valdeci Santos escreve um artigo dizendo que o assunto não deve ser exposto com reducionismos e simplicidade e que nem sequer deveria ser colocado nas redes sociais.

Mas o próprio reverendo aborda o tema com leviandade ao considerar como uma das possibilidades do suicídio é a ação de Satanás.

Nesse caso, a única solução é rezar, porque a ciência não admite a existência de Satanás.

De nada adiantará, assim, recorrer a psicólogos e psiquiatras e à medicação de depressão.

Em seu artigo, menos mal, Santos não se atém a Satanás com causa dos suicídios e considerou outros aspectos, como a fragilidade emocional dos pastores.

“Muitos receiam se abrir e, em seguida, não serem compreendidos, mas julgados e condenados”, escreveu.

É compreensível que isso ocorra, porque, afinal, culpa e condenação são matérias-primas do cristianismo.

O reverendo citou outra causa que talvez explique a fragilidade emocional do pregadores: os líderes das igrejas não dão aos pastores, diáconos e obreiros a devida atenção, tratando-os como “anticristãos”.

Se esse argumento tem algum fundamento, e deve ter, a questão é outra e mais grave: a malignidade desses líderes religiosos. A ação de seus tentáculos sobre a sociedade deveria ser objeto de estudo e combatida desde já.

Sem querer incorrer no reducionismo, digo que não há remédio para o vazio existencial, nem Deus, que, para muitos, não existe.

Uns lidam com o vazio existencial com mais facilidade que outros, é verdade.

Por isso, se eu fosse obrigado a dizer alguma coisa a pastores que têm pensando em se matar, diria que procure um psicólogo e ler outros livros, além da Bíblia, como os de filosofia.