Por que Ricardo Salles e sua “boiada” continuam passando? Por Sarah Fernandes

Atualizado em 3 de agosto de 2020 às 16:54
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles – Evaristo Sá/AFP

Publicado originalmente no site De Olho Nos Ruralistas

POR SARAH FERNANDES

— Bolsonaro procurou um ministro que cumprisse suas ordens de destruir agenda ambiental e é isso que ele está fazendo. Trata-se de desfazer tudo o que um dia deu certo na área ambiental.

— Bolsonaro não quer ministros que causem nele um eclipse. Mas existe uma questão econômica por trás. Por enquanto, o capitalismo interno ligado ao agronegócio não viu desvantagens de termos um ministro do Meio Ambiente que não defende o meio ambiente. Ao contrário: sua postura beneficia certos grupos e isso o ajuda a se manter no cargo.

A primeira avaliação acima é de Márcio Astrini, por muitos anos coordenador de políticas públicas do Greenpeace, hoje secretário-executivo do Observatório do Clima. A segunda foi feita pela gerente de projetos da organização Transparência Brasil, Marina Atoji.

Os motivos da permanência de Ricardo Salles à frente do Ministério do Meio Ambiente se sobrepõem. A postura discreta, sem chamar atenção para si, descrita por Marina, vai ao encontro do gosto do presidente Jair Bolsonaro. Que, aponta Astrini, encomendou exatamente os serviços prestados. Mas Marina acrescenta: o ministro representa determinados setores econômicos. Ou seja: Ricardo Salles não representa apenas Ricardo Salles.

Em nome de quem, portanto, ele falava na famosa reunião ministerial do dia 22 de abril, quando ele cunhou a expressão que ficou conhecida como “passar a boiada“?

Salles é o quinto retratado da série Esplanada da Morte. Os primeiros a serem perfilados foram o ministro da Economia, Paulo Guedes; o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier; a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves; e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Naquele vídeo de abril, divulgado a mando do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro afirmava que o período da pandemia seria ideal para passar projetos “infralegais”, de “simplificação” e “desregulamentação” de leis ambientais. Ele convidou os ministros para ir “passando a boiada”, “mudando todo o regramento”, já que, na visão dele, a imprensa estava com toda atenção voltada à escalada do novo coronavírus.

Naquele dia o Brasil tinha 45 mil casos e quase 3 mil mortos pela doença. A escalada continuou: neste domingo (02) o país chegou a 2.733.677 casos (61 vezes mais que no dia 22 de abril) e 94 mil mortos, mais de trinta vezes mais que na tarde da reunião.

Só que não necessariamente a imprensa se manteve distraída em relação ao enfraquecimento da legislação ambiental.

Em parceria com o Instituto Talanoa, a Folha mostrou que, entre março e maio, o Executivo federal publicou 195 portarias, instruções normativas, decretos e outras normas sobre temas ambientais no Diário Oficial, contra 17 atos publicados nos mesmos meses de 2019. Doze vezes mais: “Governo acelerou canetadas sobre meio ambiente durante a pandemia“.

Leia a reportagem na íntegra aqui.