Por que Robinho não é (nem nunca será) Messi ou Casagrande

Atualizado em 18 de outubro de 2020 às 10:56
Robinho

O caso Robinho não era ignorado por absolutamente ninguém que atue, viva, trabalhe, se informe sobre futebol. Ainda assim o Santos FC concluiu que contratá-lo seria algo banal.

Isso diz muito sobre o universo do futebol, um antro machista, misógino, homofóbico, onde a cultura do estupro é amplamente disseminada. Se Robinho pretende dizer algo em defesa própria, é que ele não é exceção. Quem conhece as festas de Ronaldinho Gaúcho sabe o que estou dizendo.

Em toda a diretoria do clube não houve nenhuma mente iluminada que alertasse para o risco da contratação? Se houve, foi voto vencido, tamanho o desprezo que o mundo futebolístico apresenta pelas regras de civilidade e respeito pela cidadania.

Foi só quando patrocinadores ameaçaram bater em retirada que o clube acendeu a luz vermelha e suspendeu o contrato com o jogador. Atenção: suspender não significa cancelar ou anular.

Na última quarta-feira, um dos patrocinadores rescindiu o contrato tão logo sentiu o aroma do problema de estar associado a imagem de Robinho. O Santos pensou estar com tudo sob controle e emitiu uma nota oficial com platitudes imbecis como afirmar que “respeita as garantias fundamentais do ser humano” e que não seria ele, o clube, a aplicar “uma sentença antecipada, prejulgando e o impedindo de exercer sua profissão”.

Pois bem, pelo visto “garantias fundamentais do ser humano” só se referem a atletas do clube e mulheres vítimas de estupro não estão contempladas. E se o Santos FC não prejulga e dá o benefício da suposição de inocência, por que quando os outros sete patrocinadores deram um ultimato entendeu por bem “suspender” o contrato com Robinho? O dinheiro fez o clube rever seus princípios?

As declarações de Robinho frente ao episódio revelam seu desapego pelas leis, regras, pelo próximo, pelas mulheres. Quando um dos seus amigos disse que viu o jogador “com o pênis na boca dela”, Robinho deu uma pedalada à la Bill Clinton: “Isso não significa transar”, respondeu safo.

Rindo, Robinho disse não estar preocupado com o que havia ocorrido no camarim da discoteca em Milão, pois a moça “estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu”.

A moça sabia o que aconteceu e identificou Robinho – que não teve como negar – entre outros cinco estupradores. Ele está condenado em primeira instância pela justiça italiana e recorre em liberdade. Caso seja considerado culpado na terceira e última instância, uma nova novela irá começar pois a Constituição Federal impede a extradição de brasileiros para cumprir pena onde tenham cometido crimes. Robinho escolheu voltar ao Brasil não foi por amor à pátria.

Instado a comentar o caso, o ex-jogador Casagrande esculhambou Robinho e deu mais uma de suas declarações corajosas e pertinentes, sem recorrer a moralismos ou religião. Aliás, Robinho é mais um dos típicos jogadores hipócritas que apelam para deus, jesus, bíblia e salmos ao responder sobre suas cafajestadas. Casagrande nunca pagou de bom moço com cabelo cortadinho nem fez tipo como “atleta de cristo”, mas até hoje dá aulas de democracia para os Caios Ribeiros da vida e demais medíocres, enquanto Robinho diz que “Infelizmente existem as feministas”.

Bolsonarista (outra característica comum), Robinho também teria muito a aprender com Messi. O argentino, nas poucas vezes em que se manifestou sobre assuntos extracampo, já declarou emocionar-se quando vê camisas e bandeiras de Che Guevara nas arquibancadas e afirmou que “A desigualdade é um dos grandes problemas de nossa sociedade”, contra a qual “devemos lutar para corrigi-la o mais rápido possível”.

Entre Robinho, Messi e Casão, há um abismo intransponível, dentro e fora do campo.