Ainda uma vez adeus

Atualizado em 27 de maio de 2013 às 15:34

SERRA É provavelmente o político mais odiado pelos jornalistas. Corre que, no passado, ele pedia a cabeça a patrões e diretores quando saía alguma matéria ruim sobre ele.

Delfim, o ministro da Economia do “milagre econômico” dos anos 70, tinha a mesma fama. Serra, quando surgiu, uma geração depois de Delfim, logo ganhou um apelido entre os jornalistas. Era chamado de “Delfim da esquerda”.

Serra, se deu para sorrir como um metalúrgico para os eleitores, continua a ser duro com os jornalistas. No debate do UOL, que vi de Londres, Josias de Souza, jornalista da Folha, fez uma pergunta banal a Serra sobre suas alianças. Serra deu automaticamente uma paulada em Josias antes de responder. “Ao contrário do que você parece pensar” etc etc. Não sei em quem Josias pensava votar, mas é bom que Serra não conte com seu voto.

Participei de um Roda Viva com Serra há cerca de 20 anos, quando meu amigo Jorge Escosteguy  comandava o programa. Serra deu um chute num entrevistador que jamais esqueci. Era uma pergunta um tanto confusa, é certo, mas nada que justificasse a agressividade arrogante de Serra. “Só posso entender suas questão à luz do fato de que todas as coisas são de alguma forma conectadas”, disse ele. Duvido que aquele jornalista tenha, desde então, votado em Serra.

Uma vez escrevi um texto na Exame sobre o que era então mais uma fracassada tentativa de Serra de se eleger prefeito de São Paulo. Era o começo dos anos 90, e eu era redator-chefe da revista. Dei ao artigo o título de um poema de Gonçalves Dias que mamãe gostava de ler: Ainda Uma Vez Adeus.

Meu chefe, Antonio Machado, me chamou depois. Disse que Serra se queixara do artigo. Não sei se chegou a pedir minha cabeça. Um ex-diretor da Veja me conta que ele nunca pediu cabeça, mas era louco para ligar e criticar autores de reportagens que não ficavam como ele queria.

Machado, sempre confiável e sério, uma vez contou uma história reveladora de Serra. Sua filha Verônica estava fazendo um estágio na Exame, no marketing da revista. Falaram um dia ao telefone, Serra e Machado. “Esse Serra é fxxx”, comentou depois Machado na redação. “Eu falei da Verônica aqui na Exame e ele disse: “ih, minha filha é muito fraca’.”

Gostaria de ver o PT na oposição de novo, mas não posso deixar de reconhecer que Serra vai levar uma merecida surra.

Ainda uma vez,  adeus.