Por que Toffoli não pode negar o pedido para investigar Bolsonaro por envolvimento na morte de Marielle. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 30 de outubro de 2019 às 8:11
Bolsonaro, na live em que tentou politizar uma investigação criminal

Dias Toffoli pode transferir ao plenário do Supremo Tribunal Federal a decisão de autorizar o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro a investigar Jair Bolsonaro pela morte de Marielle Franco, mas não terá como negar o pedido.

A menos que queira blindar um suspeito de envolvimento no crime.

Sim, suspeito de envolvimento no crime, e é assim que Bolsoaro deve ser considerado. Fora disso, é politizar uma investigação policial, como o próprio Bolsonaro tentou fazer durante a madrugada na Arábia Saudita: atacou a Globo e o governador do Rio de Janeiro, e misturou ao sangue de Marielle a eleição de 2022.

Se não fosse Bolsonaro o dono da casa 58 do condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, mas outra pessoa, esta já estaria sendo investigada — talvez já estivesse presa ou inocentada, mas jamais ignorada —, porque os indícios de ligação com o crime são veementes: o registro na portaria foi feito no mesmo dia 14 de março em que Marielle foi executada.

Pela imagem mostrada na TV, nota-se que é um livro com registro feito a mão, na ordem cronológica, cada visitante em uma linha. Portanto, não seria possível incluir a visita do coautor do crime Élcio Vieira de Queiroz com data retroativa — aquela linha já estaria preenchida com outra anotação.

O que precisa ser investigado agora é a razão da polícia não ter perseguido essa pista antes — em investigação policial, o atraso só favorece o criminoso, já que a obtenção de provas se torna mais difícil. Registros em vídeo e em áudio, por exemplo, podem ser apagados.

A menos que seja de uma inépcia absoluta, a Polícia já sabe da rotina de Élcio Vieira de Queiroz no dia do assassinato de Marielle desde que obteve as primeiras pistas sobre seu envolvimento no crime.

A investigação funciona assim: parte-se do fato e se busca eventos precedentes, como se uma fita de vídeo estivesse sendo rebobinada.

Além do registro na portaria, tem-se também o depoimento do porteiro. Testemunhos podem ser forjados, é verdade, mas, nesse caso, o álibi de Bolsonaro não derruba a versão da testemunha. Bolsonaro diz que estava em Brasília e alega em sua defesa que há o registro de presença na Câmara.

E daí?

Há condomínios em que a portaria entra em contato diretamente com o celular do proprietário — ou que este tenha em casa um aparelho em que a ligação da portaria é desviada para o celular, sistema conhecido como siga-me.

Enfim, Bolsonaro precisa ser investigado. Já deveria estaria sendo investigado pelo menos desde março — há sete meses —, quando o MP e a Polícia Civil apresentaram Élcio e Ronnie Lessa como executores do crime, e propagaram a versão de que o sargento poderia ter cometido o crime por razões ideológicas.

Uma história que não faz sentido.

Há um mandante, e este é muito poderoso, pois tem tentando interferir na investigação.

Pode ser Bolsonaro o mandante?

Sim, pode. Também pode não ser.

Por isso, ele tem que ser investigado. Há pistas sobre o mandante que levam para a casa 58 do condomínio Vivendas da Barra.

Não fosse Bolsonaro o dono desta casa, a Polícia já teria entrado nela, com autorização judicial.