Por que uma festa como essa em que jovens debocham de garis e faxineiras nunca ocorre no Nordeste? Por Nathalí Macedo

Atualizado em 5 de junho de 2017 às 22:13
Os alunos da IENH sabem o que fazer se nada der certo

 

Século XXI: alunos do terceiro ano do ensino médio – sim, estão naquela idade em que a gente já deveria ter consciência de classe e senso de empatia, mas ninguém nos exige isso se formos brancos – da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH), no Rio Grande do Sul – por que será que nunca no Nordeste? -, resolveram fazer uma festa temática intitulada “se nada der certo”.

A ideia era se fantasiarem de faxineiros, cozinheiros, vendedores ambulantes e funcionários do Mc Donald’s. 

Pegou a piada?

Se eles não conseguirem entrar em medicina ou arquitetura mesmo com o pré-vestibular caríssimo que papai e mamãe pagaram, restam-lhes trabalhos dignos (e, num país miserável e desigual, mal remunerados) – o que, para eles, parece, é uma ofensa, a tradução literal do fundo do poço.

De alguma maneira, eles riem disso.

Aliás, não é a primeira vez que riem de trabalhos honestos na internet. Quando é época de ENEM, chovem memes com bonés do McDonald’s.

Há quem ria. Há gosto pra tudo. E talvez esse não seja exatamente o problema. 

O problema é a naturalidade – inclusive institucional – do ódio de classe embutido nesse caso: em uma “nota de esclarecimento”, a IENH tirou o corpo fora – pasmem! – e se desculpou pelo “mal entendido”.

Para o opressor – e para os privilegiados de modo geral – a opressão é sempre um mal entendido. A piada não é racista, o negro é que não entendeu nada.

Danilo Gentilli não é machista, as mulheres é que não sacaram o apelo libertário. Os alunos da IENH não são classistas, foi só um mal entendido.   

O problema, em resumo, é que o inferno são sempre os outros. Em português claro: opressor não olha pro rabo. 

Se nada der certo, pelo menos eu não estudei na IENH.