Por que você deve ler o Nobel de Literatura Patrick Modiano

Atualizado em 6 de novembro de 2014 às 20:13
Leia, se puder
Leia, se puder

Peguei as últimas semanas para ler Patrick Modiano, o Nobel de Literatura.

Para adiantar: vale a pena lê-lo. Muito. A Academia Sueca, desta vez, não buscou um escritor desconhecido apenas por capricho ou coisa parecida.

Encontrei algumas coisas dele no Scribd, um site de livros. Nada em português. Uns romances em inglês, outros em espanhol.

A obra de Modiana é centrada na ocupação nazista da França, no começo dos anos 1940.

Ele não tinha nascido ainda: é de 1945. Mas seus pais, judeus, enfrentaram o pesadelo nazista na França.

Sobreviveram, ao contrário de tantos outros judeus franceses.

Seus livros são curtos, sempre com pouco mais de 100 páginas. Já o compararam a Simenon, pelas frases curtas, pelo ritmo veloz de suas tramas quase policiais e pelo tamanho dos romances.

Também já o compararam a Proust, pelo caráter memorialista de sua obra.

Vi que a Rocco vai relançar, no final deste ano, alguns romances dele em português.

Um romance de Modiano, particularmente, me impressionou: Lua de Mel.

O narrador é um documentarista de Paris entediado com tudo – a vida, o casamento, a profissão.

Quer fugir de tudo.

Numa passagem por Milão, ele fica sabendo num hotel do suicídio de uma mulher francesa.

Ele descobre que a conhecera, anos antes, quando ela se escondia com o namorado dos nazistas.

O casal, bem jovem, era judeu. Para justificar sua estada num hotel fora de Paris, eles diziam que estavam em lua de mel.

A história gira em torno de dois planos.

Num, o narrador reconstrói o passado que viveu ao lado dos namorados em fuga.

No outro, o narrador enfrenta seu presente do qual tenta, desesperadamente, fugir.

Modiano em nenhum momento cede ao sentimentalismo, embora seja clara sua simpatia pela suicida.

Você não sabe o que a levou a se matar, embora seja provável que ela jamais tenha superado o impacto em sua vida da violência nazista.

Uma das razões pelas quais Modiano recebeu o Nobel, especula-se, é o ressurgimento do antissemitismo na França.

Seja isso verdade ou não, foi uma excelente escolha.