Um agradecimento.
Sou grato ao Wikileaks por haver me transportado, com seu idealismo épico, com sua combatividade intrépida, aos tempos em que eu acreditava.
O Wikileaks me devolveu a crença no jornalismo como uma forma de mudar o mundo. Como um instrumento capaz de ajudar os fracos e indefesos e oferecer combate aos interesses tortos alojados em governos e em organizações devotadas unicamente à multiplicação dos lucros. Como uma arma que pode semear causas como a da “common decency” de George Orwell — uma sociedade que seja regida pela noção de decência nos atos.
Para que haja bons governos e boas organizações você tem que expor os maus governos e as más organizações – isso é fazer jornalismo. Isso é o que o Wikileaks faz.
O resto é silêncio, como escreveu Shakespeare.
As grandes corporações jornalísticas – no mundo todo – cresceram tanto que seus próprios interesses acabaram por mitigar sua capacidade de ser combativas. Quantas delas levam sua investigação, se necessário, para o território protegido dos grandes anunciantes?
Isso abriu espaço para que o Wikileaks se instalasse e promovesse uma revolução no adormecido jornalismo investigativo cheio de amarras que vigorava no mercado.
O principal ativo do Wikileaks era e é não ter rabo preso — mas de verdade.
O Wikileaks não poupa uma empresa por ser anunciante — ou credora. Não poupa um governo por ser de direita, como os Estados Unidos, ou de esquerda, como a China.
Procuro em vão palavras que expressem minha gratidão ao Wikileaks e Julian Assange por voltar a ter, aos 55, a fé cega, completa, avassaladora, romântica — tola até – que tive aos 20 nessa coisa chamada jornalismo.