Por votos que não receberá, Ciro flerta com a barbárie. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 27 de setembro de 2018 às 13:09
Ciro

Consta nos anais da política nacional a famosa frase de Ciro Gomes sobre o papel de sua então mulher, Patrícia Pillar, em sua campanha.

A minha companheira tem um dos papéis mais importantes, que é dormir comigoDormir comigo é um papel fundamental”. Disse o candidato numa sentença desastrosa.

Aquelas poucas palavras, concordam quem entende de política, foram determinantes para a sua derrocada nas eleições de 2002.

É bem verdade que foi uma frase solta, um escorregão numa casca de banana que jogaram para ele. Ainda assim, foi fatal.

Pois bem! No debate do SBT o velho Ciro Gomes voltou à sua melhor forma. O que, na prática, é terrível. Buscando votos no antipetismo, disse que, caso eleito, governaria sem o PT.

É mais uma pérola das inúmeras que já produziu, mas aqui, porém, há um agravante. Não se trata de uma frase solta, sob pressão de dezenas de microfones a bater-lhe o queixo em meio a inúmeras perguntas efetuadas ao mesmo tempo.

Naquele momento Ciro tinha toda a liberdade para falar o que quisesse sem que ninguém o interrompesse. Foram segundos só seus utilizados a partir de um cálculo político.

Um cálculo de física quântica efetuado por um analfabeto bêbado, alguém poderia dizer. Mas de todo o modo, um cálculo.

Como já afirmei aqui anteriormente, Ciro já percebeu que não tem o poder de tirar os votos de Haddad. Dessa forma, como última cartada, busca no lamaçal antipetista os votos que não terá, já que em matéria de canalhice, Bolsonaro nada de braçada.

E aí está o desastre de seu anunciado.

É claro que governar sem o PT é plenamente possível, Temer está aí para provar. A questão que fica é: se o PT está fora de um eventual governo seu, quem estará dentro?

Talvez uma parte desse questionamento tenha sido respondido na sua passagem pelo Rio Grande do Norte. Por terras potiguares, lá estava o Ciro que não se alia a golpistas pedindo votos alegremente para José Agripino Maia, ninguém menos do que o ex-presidente nacional do DEM e ferrenho defensor do impeachment de Dilma Rousseff. Demagogia?

Outras questões afloram.

Se Ciro renega a participação do PT e todo o seu histórico de lutas em prol dos direitos da classe trabalhadora, incluindo-se aí todo o seu aparato partidário distribuído entre deputados, senadores e governadores, a quem realmente se destinaria o governo Ciro Gomes?

São indagações que surgem a partir dessa sua mais nova empreitada.

Outro ponto que me vem à cabeça por não ter ficado suficientemente claro é: se por força de um milagre todos os institutos de pesquisas estiverem errados e seja Ciro, e não Haddad, a ir para o segundo turno, o destemido pedetista também negará o apoio do PT nessa próxima etapa da eleição? Ou isso só passa a valer após ter recebido os votos dos petistas?

Ciro, até o mundo mineral já sabe, é um poço de contradições. Mas negar, a essa altura do campeonato, a participação do mesmo PT que lhe fez ministro e atualmente está alavancando a candidatura do seu irmão no Ceará, beira a covardia.

Chegou-se a um ponto em que ele terá que decidir em que lado da luta de classes travará sua batalha. Haddad estará no segundo turno, se de fato Ciro for um democrata e desejar o melhor para o Brasil e o seu povo, será muito bem-vindo. Caso contrário, que se alie com Bolsonaro e ponha fim de vez à sua biografia.

Até porque, diante tanta bipolaridade, para quem começou sua vida política no Arena, terminá-la junto à barbárie já não é de todo contraditório.