Possível volta de Trump à Casa Branca acende alerta no governo brasileiro

Atualizado em 4 de novembro de 2024 às 8:37
Lula e Donald Trump: Integrantes do governo brasileiro estão preocupados com uma possível vitória do republicano. Foto: reprodução

Integrantes do governo brasileiro estão preocupados com uma possível vitória de Donald Trump nas próximas eleições americanas, preparando-se para o que um interlocutor descreveu como um “potencial de conflito ampliado” entre os dois países, conforme informações da Folha de S.Paulo.

Na última sexta-feira (1º), o presidente Lula (PT) declarou seu apoio a Kamala Harris, e criticou Trump, associando-o ao que considera uma “reaparição do nazismo e fascismo com outra face.” “Como sou amante da democracia, acho a coisa mais sagrada que nós humanos conseguimos construir para bem governar o nosso país, obviamente estou torcendo para Kamala ganhar as eleições”, afirmou Lula.

Para a diplomacia brasileira, um dos pontos mais delicados com Trump seria a possível interrupção na colaboração ambiental entre os países. Durante seu primeiro mandato, o republicano retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris e foi um forte defensor da indústria de combustíveis fósseis, setor que atualmente apoia financeiramente sua campanha.

Diante de uma eventual volta de Trump ao poder, o Brasil teme que o Fundo Amazônia e outros fundos importantes permaneçam bloqueados, principalmente se o Congresso americano tiver maioria republicana.

Outro foco de atenção é a relação estreita entre Trump e Elon Musk, dono da plataforma X (ex-Twitter) e um dos principais aliados do ex-presidente. Recentemente, Musk entrou em conflito com o ministro Alexandre de Moraes, e sua proximidade com Trump pode fortalecer essa aliança.

Elon Musk promete sortear R$ 5 milhões por dia entre americanos que declararem apoio a Trump
Elon Musk (dir.) sobe ao palco para se juntar a Donald Trump durante comício de campanha em Butler, na Pensilvânia — Foto: Jim Watson/AFP

Bruna Santos, presidente do Brazil Institute, comentou que “há articulações no Congresso dos EUA para questionar o Brasil sobre alegadas violações de liberdade de expressão, e isso deve ganhar força com Trump”, o que, segundo ela, pode abrir caminho para uma “guerra de narrativas exaustiva e pouco produtiva.”

Além disso, analistas internacionais apontam que Trump, na América Latina, deve procurar parcerias com líderes alinhados à extrema direita, como Javier Milei, recém-eleito na Argentina, e Nayib Bukele, presidente de El Salvador.

Embora o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seja um antigo aliado de Trump, especialistas acreditam que ele pode perder relevância na agenda regional do republicano. Segundo Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco Europa, “Trump é transacional” e tende a priorizar líderes ativos que possam fortalecer a posição americana na região.

Outro ponto de divergência envolve Trump e o presidente russo Vladimir Putin, que Lula vê como peça essencial para negociações de paz no conflito ucraniano. O republicano já declarou que, se eleito, reduzirá o apoio dos EUA à Ucrânia, uma posição que se alinha à preferência brasileira por uma solução pacífica.

Contudo, essa postura de Trump pode vir acompanhada de uma abordagem mais intensa no Oriente Médio, onde Israel, liderado por Binyamin Netanyahu, poderia se sentir encorajado a adotar ações mais agressivas contra Gaza e o Líbano.

Já no caso de vitória de Kamala Harris, o governo brasileiro espera a continuidade das políticas de Biden, mantendo um diálogo alinhado aos valores democráticos e de proteção ambiental. Apesar disso, a diplomacia brasileira adota uma postura pragmática e segue aberta ao diálogo com ambos os lados até que o resultado das eleições seja definido.