Postos, hotéis e motéis: a rede de comércios suspeita de lavar R$ 250 mi para o PCC

Atualizado em 25 de setembro de 2025 às 13:45
Posto supostamente ligado ao PCC em SP. Foto: reprodução

Uma investigação do Ministério Público do Estado de São Paulo e da Receita Federal revelou que uma extensa rede de postos de combustíveis e uma cadeia de hotéis e motéis com unidades em várias cidades paulistas foram utilizadas para lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). A operação, deflagrada nesta quinta-feira (25), cumpre 25 mandados de busca e apreensão em 35 endereços e mira também esquemas de exploração de jogos de azar e comércio de combustíveis adulterados ligados à facção.

De acordo com as investigações, mais de 60 motéis foram identificados como parte do esquema, a maioria registrada em nome de “laranjas”. Esses estabelecimentos movimentaram cerca de R$ 450 milhões entre os anos de 2020 e 2024. Os valores contribuíram para o aumento patrimonial dos sócios, com a distribuição de R$ 45 milhões em lucros e dividendos. A Receita Federal apurou que um único envolvido chegou a distribuir 64% da receita bruta declarada.

O esquema de lavagem se estendia até aos restaurantes localizados dentro dos motéis, que possuíam Cadastros Nacionais de Pessoas Jurídicas (CNPJs) próprios. Em um dos casos, um investigado distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros após declarar uma receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023.

Documentos obtidos pela reportagem mostram que a facção criminosa opera com contadores próprios. Um dos investigados detém procuração de mais de 200 empresas do ramo de combustível perante a Receita Federal.

Ministério Público de SP e Polícia Militar realizam a Operação Spare na manhã desta quinta-feira (25). Foto: Reprodução/PMSP

Conforme a decisão judicial, Flávio Silvério foi apontado como o responsável pelo esquema de lavagem de dinheiro. As investigações começaram após a apreensão de máquinas de cartão de crédito em casas de jogo de azar na cidade de Santos, que estavam ligadas a postos de combustíveis.

“A partir da análise fiscal da empresa BK Bank, a Receita Federal identificou que seus principais clientes são empresas que abrangem toda a cadeia produtiva de combustíveis e distinguiu seis núcleos, com relacionamentos entre si, sendo que o Núcleo São Paulo seria comandado por Flávio Silvério Siqueira”, consta nos autos. A defesa do investigado não foi localizada para se manifestar.

Segundo o Ministério Público, a fintech utilizada pela organização criminosa para movimentar milhões de reais é a mesma empregada pelos alvos da Operação Carbono Oculto, realizada em 28 de agosto.

Naquela ocasião, foi deflagrada a maior operação já realizada contra a infiltração do crime organizado na economia formal do país, com alvo em empresas da Avenida Faria Lima, em São Paulo.

O MP afirmou que a ação desmontou “um intrincado esquema colocado em prática por organizações criminosas investigadas de participação fraudulenta no setor de combustível, com infiltração de integrantes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), lesando não apenas os consumidores que abastecem seus veículos, mas toda uma cadeia econômica”.

As análises financeiras demonstraram que os valores originados de atividades ilegais eram canalizados para a fintech, com o objetivo de ocultar a origem e o destino ilícitos do dinheiro.

“Com o aprofundamento das investigações, foi possível identificar uma complexa rede de pessoas físicas e jurídicas envolvidas na movimentação dos valores ilícitos”, disse o MP.

Vínculos foram descobertos entre a organização criminosa e empresas de hotelaria, postos de combustível e instituições de pagamento, que mantinham contabilidades paralelas para dificultar o rastreamento dos recursos.

A principal instituição de pagamentos investigada, a BK Bank, registrou R$ 17,7 bilhões em movimentações financeiras suspeitas. Em nota divulgada durante a operação de agosto, o BK Bank informou que foi surpreendido com a ação e que “conduz todas as suas atividades com total transparência, observando rigorosos padrões de compliance”.

As investigações apontam para uma série de crimes, incluindo contra a ordem econômica, adulteração de combustíveis, crimes ambientais, lavagem de dinheiro do tráfico, fraude fiscal e estelionato.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.