
A recente escalada de violência envolvendo policiais militares em São Paulo tem sido atribuída à escolha do capitão reformado Guilherme Derrite para liderar a Secretaria da Segurança Pública. Essa visão é compartilhada por integrantes da corporação ouvidos pela Folha de S.Paulo, que apontam a postura do secretário como um fator que contribui para a sensação de impunidade entre os policiais.
Oito membros da Polícia Militar, entre ativos e inativos, destacaram que as declarações de Derrite e sua nomeação foram interpretadas por muitos na tropa como um “salvo-conduto” para o uso de armas, especialmente em situações onde os PMs se sentem ameaçados.
Entre as falas citadas, uma frase dita pelo secretário durante uma ação letal da Rota, no início do ano passado, foi vista como emblemática: “Nenhum policial que sai de casa para defender a sociedade será injustiçado. Confrontos sempre serão apurados, mas ninguém será afastado no caso da abordagem da Rota que evitou um assalto no semáforo. Até que se prove o contrário, a ação ocorreu dentro da lei.”
Embora oficialmente o afastamento de policiais envolvidos em mortes decorrentes de intervenção policial (MDIP) ainda ocorra, na prática, esses afastamentos têm sido extremamente curtos, geralmente limitados a um único dia, enquanto o caso é revisado por superiores.
Antes da gestão de Tarcísio de Freitas, esses afastamentos costumavam durar cerca de três meses, além de envolver a transferência de batalhão dos policiais envolvidos em ocorrências com suspeitas de irregularidades, algo que agora raramente acontece.

Redução no rigor das investigações
Outro ponto levantado pelos policiais entrevistados foi a diminuição do rigor nas apurações, com uma redução na presença da Corregedoria em locais de confrontos com mortes. Essa prática, que anteriormente era padrão, ajudava a identificar possíveis irregularidades, mas foi significativamente reduzida sob a gestão atual.
Um coronel da ativa apontou que parte da tropa parece alheia à gravidade da crise institucional na corporação. Muitos policiais se informam apenas por canais alinhados à extrema direita, onde ações violentas da PM são frequentemente aceitas ou até celebradas, como ocorreu durante as Operações Escudo e Verão, que resultaram em várias mortes atribuídas a supostos confrontos.
A sensação generalizada entre os PMs entrevistados é de que a situação deve piorar, com um aumento na insubordinação e na dificuldade de controle da tropa. Antes da gestão Tarcísio, a Polícia Militar de São Paulo era considerada uma das mais exemplares do país, mas, segundo eles, essa percepção está se desintegrando rapidamente.
Por outro lado, dois coronéis discordaram dessa visão. Eles acreditam que os episódios de violência são isolados e não resultam diretamente das ações ou declarações de Derrite ou do governador. Esses oficiais argumentam que problemas de conduta sempre existiram na corporação, mas que agora são mais divulgados devido à maior disponibilidade de câmeras e registros feitos pela população.