Em dezembro do ano passado, a Unimed contratou o procurador lavajatista Deltan Dallagnol para ministrar uma palestra na cidade de Assis (SP), chamada “Ética e Lava Jato”. Na ocasião ele ainda recebeu uma placa em sua homenagem.
“Quero ressaltar a iniciativa dos diretores da Unimed em debater este assunto. Um dos nossos objetivos é levar a informação para toda a sociedade e por meio de eventos como este conseguimos fazer isso”, declarou Dallagnol.
Na verdade, informação completa mesmo, com provas, só estamos tendo agora sobre como foi que a república de Curitiba se instalou e quanto Deltan ganhava para manter aquela pose toda.
Os diálogos revelados neste final de semana pela Folha de S.Paulo mostram que o procurador tinha ambições elevadas em termos financeiros. Planejou abrir empresa com cônjuges laranjas e lucrar muito.
Em fevereiro deste ano, lá estava ele novamente contratado pela Unimed. Dessa vez em Presidente Prudente (SP), no I Fórum da Transparência da Unimed Prudente:
“Eu vejo esse movimento da Unimed mostrando implementar uma postura mais rigorosa de transparência e prestação de contas, auditorias e compliance como algo que é fruto de todo esse processo a sociedade”, discursou.
Transparência e prestação de contas? Mesmo? Curioso dizer isso alguém que utilizava duas funcionárias da Procuradoria para cuidar dessa sua agenda de eventos (recibos inclusive) e adentrou madrugadas matutando como burlar tributos e encher os bolsos.
Há anos a Unimed contrata Deltan Dallagnol para palestras e eventos. É uma das empresas que mais o contrata, a ponto de ele indicar a empresa de saúde a uma outra procuradora, Thaméa Danelon, para que também montasse palestras e faturasse uma graninha.
Mas por que justo a Unimed é um dos “clientes” mais atraentes para Dallagnol? Se o procurador fosse responsável por palestras motivacionais teria se revelado um fracasso absoluto. A empresa é um poço de problemas.
Só a Unimed Paulistana, segundo seus próprios advogados, tem um ativo atual suficiente para quitar apenas 6,45% de seu passivo total, que hoje já ultrapassa os R$ 3 bilhões. Por isso pediram falência. Em 2015 foi obrigada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a transferir 740 mil clientes para outros planos de saúde.
E aqui chegamos a outro ponto curioso no perfil do principal contratante de Dallagnol.
Em novembro do ano passado a 1ª Câmara Empresarial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo negou em segunda instância o pedido de falência apresentado pela Unimed Paulistana. Isso porque a empresa é uma cooperativa e não uma sociedade empresarial. Por lei, somente sociedades empresariais estão sujeitas à falência.
Na apelação, a Unimed argumentou que deveria ser equiparada a uma empresa normal, alegando que “houve um desvirtuamento da finalidade para a qual foi criada”.
O desembargador Azuma Nishi relatou que “as cooperativas se caracterizam como um contrato de sociedade pelo qual seus integrantes se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade de proveito comum, sem intenção de lucro” e criticou o pedido da empresa Unimed de “querer ser equiparada a uma sociedade empresária de fato, pois houve o desvirtuamento da sua finalidade de cooperativa, constitui indevida tentativa de se beneficiar da própria torpeza”.
Pois é. Torpe. Deltan também esteve muito interessado nesses “formatos” de empresas sem fins lucrativos que, quando pegas com a boca na botija, tentam dizer que são o que sempre negaram ser.
O Sistema Unimed é composto por 351 cooperativas. Pensou que era uma coisa só, leitor?
“O sistema Unimed é composto de diversas operadoras de saúde que utilizam os mesmos símbolos distintivos para transmitir a ideia de que se trata de uma empresa com cobertura nacional quando, na realidade, não são”, explicou o advogado Rodrigo Araújo, especialista em direito nas áreas médicas e de saúde.
Entendeu a malandragem?
Mas não apenas a paulistana está com problemas (patrimônio líquido negativo de R$ 169 milhões e um tributário de R$ 263 milhões, isso em 2014).
Atualmente o site da ANS alerta para que não se contrate planos da Unimed Manaus, da Unimed Norte-Nordeste, da Unimed Vale do Aço. Todos suspensos.
Em dezembro do ano passado a ANS proibiu a comercialização de dezessete planos no RJ. Destes, dez eram planos da Unimed-Rio. A ANS tomou a decisão considerando as 16.442 reclamações recebidas no terceiro trimestre de 2018, entre as quais negativa de cobertura.
A Unimed Manaus tem dívidas em torno de R$ 500 milhões, conforme admitiu seu diretor Sérgio Ferreira Filho. “Havia 50 Unimeds em vários Estados que não aceitavam mais usuário da Unimed Manaus. Hoje, os grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Natal, Fortaleza e Belo Horizonte, estão negociados”, disse ele em entrevista ao Portal Marcos Santos, de Manaus.
Desde 2009 a ANS vem acompanhando anormalidades assistenciais e administrativas graves na Unimed. E Deltan Dallagnol, na representação perfeita do que foi a Lava Jato, escolheu exatamente essa empresa para ir várias vezes palestrar sobre ‘transparência’ e ‘ética’ e faturar uma bolada de quem alega dificuldades financeiras para deixar pessoas sem atendimento médico.
Tá certo.