“Povos indígenas começaram a ocupar o parlamento”, afirma Weibe Tabeba

Atualizado em 12 de dezembro de 2020 às 20:23
Weibe Tabeba (PT), indígena Tapeba, eleito no município de Caucaia. Além dele, outros três foram eleitos em todo o Ceará. Foto: Divulgação

Publicado originalmente no Brasil de Fato:

Por Francisco Barbosa

No Ceará, apenas duas cidades tiveram segundo turno. Fortaleza e Caucaia, e nesta, o resultado foi uma surpresa baseado no resultado do primeiro turno e na pesquisa de intenções de votos. No primeiro turno, Naumi Amorim do PSD recebeu 40,93% dos votos, enquanto Vitor Valim, do Pros, recebeu somente 27,87%, garantindo a participação dos dois candidatos no segundo turno. Vitor Valim acabou se elegendo prefeito de Caucaia com um total de 51.08% contra 48,92% de Naumi.

Sobre o segundo turno, Weibe Tapeba, professor, advogado, liderança indígena do povo Tapeba e vereador reeleito no município de Caucaia com 2.292 votos pelo PT, diz que o resultado nas urnas foi diferente do que as pesquisas mostravam. “As pesquisas em Caucaia de fato não representaram o sentimento das ruas, dos bairros e das comunidades. Acho que o resultado das eleições deva ser resultado de um conjunto de fatos ocorridos.

Avalio que o primeiro deles foi o discurso do combate ao crime organizado e as facções criminosas utilizado pelo candidato eleito em Caucaia que, a meu ver, deva ter tido realmente um peso nos resultados das eleições.” afirma o vereador.

Outra situação que deva ter influenciado no resultado, de acordo com ele, foi o fato das principais obras de infraestrutura, terem ocorridos basicamente em bairros da região da Grande Jurema e Centro da Cidade.

“E o último fator influenciador, que acredito que foi fundamental, foi o episódio ocorrido um dia antes das eleições do segundo turno, envolvendo gestores de primeiro escalão do prefeito Naumi Amorim, em que a imprensa cearense deu grande repercussão, divulgando possível ação de compra de votos.”

Questionado sobre qual o impacto da eleição de Vitor Valim, Weibe explica que a eleição do candidato tem sido encarada como uma ameaça velada aos direitos de grupos sociais bem definidos em Caucaia, no qual os povos indígenas estão inseridos. “Identificamos a então candidatura de Vitor Valim, como sendo a candidatura de Bolsonaro e, por tanto, uma candidatura que representa a intolerância e a política do retrocesso. Essa eleição pode trazer precedentes imensuráveis e conflitos constantes”.

Weibe afirma que as lideranças indígenas do Povo Tapeba devem se reunir para avaliar esse cenário e já emitir um posicionamento político que deve ser entregue ao prefeito eleito, enumerando um conjunto de pautas que o movimento indígena defende e informando que a etnia não tolerar retrocesso, especialmente com relação a luta pela regularização do Território Indígena Tapeba, que encontra-se em curso. “O caso Tapeba é o único do Brasil que foi homologado judicialmente fruto de um Termo de Acordo celebrado, em que o Município de Caucaia é parte”.

Indígenas na política

Para ele, a eleição de indígenas no Brasil é um “fenômeno” que tem ganhado destaque nos últimos anos. “O movimento indígena organizado definiu como estratégia política, a ocupação desses espaços, como instrumento de luta. Aqui no Ceará, nos últimos anos, os Povos Indígenas começaram a ocupar de forma mais efetiva os espaços do parlamento”.

Weibe afirma que a eleição de indígenas no Ceará para ocupar cadeiras em Câmaras de Vereadores representa a construção de um novo cenário político no estado, aonde os indígenas deixam de ser meros figurantes ou até “massa de manobra” nos períodos eleitorais, para disputar a ocupação desses espaços de forma organizada e articulada, defendendo sempre pautas como a luta pelos territórios, direitos humanos e ambientais e do respeito à diversidade.

De acordo com levantamento feito e divulgado pelo campanhaindígena.org, este ano o Ceará totalizou 45 candidaturas indígenas tendo quatro indígenas eleitos a vereadores. Foram eles: Valdemar dos Lajedos (PDT), indígena Tubiba-Tapuya e Vicentinho (PDT), indígena Potyguara, eleitos em Monsenhor Tabosa; Weibe Tabeba (PT), indígena Tapeba, eleito no município de Caucaia e; Elky Barrosa (DEM), indígena Kanindé, eleita na cidade de Aratuba.

Em seu primeiro mandato, Weibe Tapeba foi o vereador mais atuante, com mais de 400 proposições apresentadas, entre projetos de leis, indicações e requerimentos, para o novo mandato ele afirma que a população pode esperar um mandato ainda mais combativo. “Com mais experiência, estaremos na Câmara reforçando a luta pelo acesso a água e pela universalização do transporte público. Encontrarão no nosso mandato, a força necessária para debatermos temas do meio ambiente, direitos humanos, mulheres, juventude, negros, indígenas, quilombolas, comunidade LGBTQI+, da periferia e da classe trabalhadora de forma geral”.

Vereadores

Na Câmara dos vereadores de Caucaia, O PSD conseguiu eleger quatro vereadores. O DEM e o PSL elegeram três candidatos cada; PDT e Solidariedade elegeram dois, cada; Já o PP, PT, Pros, Avante, DC, PV, Rede, MSB e PSDB elegeram apenas um vereador. Weibe Tapeba acredita que a configuração da Câmara de Vereadores de Caucaia ficou ainda mais conservadora.

De acordo com ele, essa nova configuração é resultado de uma campanha alicerçada fundamentalmente pela velha política. “As disputas desiguais, a partir da compra de votos, influência da igreja e até ameaças, levaram a uma renovação de mais da metade da Câmara, mas sem muitas mudanças de perfil do campo progressista e de defesas de causas sociais. Por tanto, creio que nos próximos quatro anos, a tendência é de que não haja muito avanço em legislações mais avançadas para o campo progressista”.

Confira a lista de vereadores eleitos no município

Vanderlan Alves (DEM) – 4.107
Elzinha Goes (PSL) – 3.503
Mersinho (PSD) – 3.463
Germana Sales – (PSD) – 3.440
J. Wellington (PSD) – 2.932
Neto do Planalto (PP) – 2.849
Ricardo Cordeiro (PSD) – 2.637
Lauro Arruda (PDT) – 2.572
Fernando do Picuí (Solidariedade) – 2.486
Leo do Zé Almir (Solidariedade) – 2.418
Weibe Tapeba (PT) – 2.292
Dr. Tanilo (PDT) – 2.283
Gilberto da São Francisco (PSL) – 2.048
Ratinho Cabral (Pros) – 1.910
Calos Henrique (DEM) – 1.881
Camila Cavalcante (DEM) – 1.828
Dalila do Garrote (PSL) – 1.765
Dimas Matias (Avante) – 1.483
Dr. Carlinhos (DC) – 1.482
Marcelo Pinto (PV) – 1.442
Lorão Macedo (Rede) – 1.017
Moisés Oliveira (MDB) – 1.001
Savio Nascimento (PSDB) – 964