Power to the people

Atualizado em 13 de junho de 2013 às 15:29
Cobrindo o protesto, hoje, fotografado por Kazumi3

E eis que o movimento Occupy Wall Street, basicamente um protesto contra os excessos do capitalismo tal como ele existe hoje, se internacionaliza.

Hoje, houve manifestação em  951 cidades de 82 países, segundo os ativistas que estão por trás da onda de manifestações. Quais são exatamente estes organizadores, não se sabe. Se existem líderes efetivos, eles ainda não são visíveis. No vendaval de especulações, chegaram a dizer que o magnata George Soros estava financiando os rebeldes de Nova York. A probabilidade maior é que estejamos diante de uma espécie de orquestra que cresce espontaneamente sem maestros.

Estive no protesto de Londres. As avaliações em torno do número de manifestantes variaram entre 1 000 e 3 000, reunidos em frente à catedral de Saint Paul num sábado glorioso de outono com céu inteiramente azul e temperatura ao redor de 15 graus.

A polícia londrina fez um cordão em torno do quarteirão da catedral, o que impediu que a multidão crescesse descontroladamente.  Uma jovem atrás de mim apanha um giz rosa e escreve: “Power to the people”.  O “o” de power está na forma de um coração, o que dá uma idéia do tom pacifico do protesto. Algumas pessoas seguram cartazes antibancos. Panfletos são distribuídos por ativistas que saúdam a internacionalização do movimento ou criticam a “ganância” dos banqueiros. Uma faixa domina o ambiente com a frase já clássica: “Somos os 99%.”

Os manifestantes repetem antigas reivindicações

Julian Assange, em regime de liberdade controlada, surge do nada e fala. “Não estamos destruindo leis, mas construindo”, afirma ele. Alguém da platéia o chama de “Jesus”. É verdade que o Wikileaks de certa forma ajudou a criar uma atmosfera de insatisfação com o status quo com suas revelações sobre ações tenebrosas do governo americano e de grandes corporações. Assange chegou com uma máscara, e foi obrigado a tirá-la.  Estava outra vez com os cabelos pintados de branco, e não com a cor natural, um castanho opaco, e vestia um casaco de couro.“Queremos dos governos e das grandes corporações a transparência que exigiram de mim aqui”, disse ele, já desmascarado. Assange homenageou o Anonymous, o grupo de hackers que saiu em sua defesa quando algumas companhias, sob pressão do governo americano, começaram a boicotar o Wikileaks em coisas estratégicas como a doação de dinheiro por meios digitais.

Estou vendo um momento histórico ou é só uma brisa que vai passar?

A dúvida me assalta. Quando cheguei a Londres, em 2009, cobri um encontro do G-20 que parecia que entraria para a história ao salvar o mundo. Aspas. O tempo, o juiz definitivo das coisas, mostrou que aquela reunião, ao contrário do que eu imaginara, teve uma desimportância suprema. Levou do nada para lugar nenhum.

E agora?

É cedo para dizer alguma coisa mais efetiva. O que parece inegável, primeiro, é que a esquerda renasce depois de um longo sono do qual não dava mostras de que acordaria. “Marx estava certo”, dizia um cartaz. Mas, acima disso, um recado está sendo dado a governos de grandes países e a empresas enormes, sobretudo as da área financeira: chega. Desse jeito não dá. Nós, os 99%, não podemos ser tratados assim. Nossa paciência tem limite.

Mais ou menos isso.

Se o 1% compreender isso e abrir mão de parte de seus privilégios,  as chances de que os protestos cresçam ao ponto de provocar rupturas institucionais em várias partes são mínimas. Se a mensagem não for entendida, sabe-se lá onde tudo isso vai terminar.