analise

Precisamos curar a erisipela do fascismo. Por Fernando Brito

Jair Bolsonaro (PL) dirigindo um ônibus para o Palácio da Alvorada. Charge: Renato Aroeira

Publicado originalmente no “Tijolaço”

Cinco ônibus em chamas, vários carros incendiados, vidraças da sede da Polícia Federal em Brasília desmanchando-se em cacos, após pedradas e….nenhum preso e nem mesmo alguém apontado como responsável pelas depredações.

Alguns dos envolvidos puderam até acoitar-se nas portas de quartéis e até na própria residência presidencial, com direito lanches mandados servir pela primeira-dama Michele Bolsonaro.

O próprio vice-presidente da República os convoca a “manter acesa a chamada direita” e não dá uma palavra sobre o vandalismo.

Estamos hoje a assistir uma espécie de erisipela fascista, onde bactérias que, num organismo sadio, de nada seriam capazes, produzem uma chaga horrenda e assustadora, que não vai ser curada rápido.

Será que se pode chamar a isso de uma situação normal, de acontecimentos próprios de um regime democrático o que está?

Qualquer autoridade, civil ou militar, seja por prevaricar em seus deveres, seja por procrastinar as investigações sobre as responsabilidades – as diretas e as remotas – deve ser tratada como é: cúmplice de uma aventura autoritária que só não aconteceu por falta de condições políticas internas e externas.

O ministro Alexandre de Moraes diz que “ainda tem muita gente para prender e muita multa para aplicar” é correto, mas não é uma resposta suficiente ao que está acontecendo.

Da mesma forma, a declaração do futuro Ministro da Justiça, Flávio Dino, de que “o que não puder ser feito agora, será feito a partir de 1° de janeiro” é correto, mas não responde às necessidades do país.

O nó político-institucional que precisa ser desatado é o de o Brasil estar desprovido de uma instituição chave para a democracia: o Ministério Público, a quem corresponde o papel de ter iniciativas.

À falta dele, ficamos neste impasse: o Judiciário não pode – e não deve – agir sem provocação; a polícia tem limites muito apertados – e assim deve ser – para agir além dos fatos em curso.

Augusto Aras é hoje o personagem símbolo da ruína a que o MP foi levado e dos danos que, por conta de sua desmoralização, suprimiu as defesas do organismo democrático.

E a chaga se espalha e insiste, sem que haja reação, como se nos bastasse dizer: “daqui a quinze dias os estreptococos vão ver só”.

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clicando neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link
Fernando Brito

Disqus Comments Loading...
Share
Published by
Fernando Brito

Recent Posts

VÍDEO: pressionado após fake news, Pablo Marçal recua e pede fim de críticas ao governo Lula

O coach bolsonarista Pablo Marçal deu aquela famosa arregada. Ele, que vinha há dias criticando…

7 minutos ago

Risco de alagamentos: RS deve ter novos temporais neste fim de semana

Novos temporais são esperados no Rio Grande do Sul neste fim de semana, com previsão…

41 minutos ago

Fake news prejudicam resgate no RS e serão investigadas, diz Pimenta no Jornal Nacional

O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), Paulo Pimenta, afirmou na…

8 horas ago

Justiça gaúcha determina remoção de fake news sobre as enchentes no estado

O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) conquistou uma liminar judicial para que…

9 horas ago

Assembleia Geral da ONU aprova resolução que acolhe Palestina como membro

A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou nesta sexta-feira (10) uma resolução…

10 horas ago

Lula alfineta Bolsonaro: “Eu não quero fazer CACs. Eu quero fazer biblioteca”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta sexta-feira (10/5), em Teixeira de…

11 horas ago