Os ataques dos garimpeiros ao Instituto Chico Mendes e Ibama, em Humaitá, no Amazonas, é um exemplo do país em que nos tornamos depois do golpe de 2016: uma terra sem lei.
É impossível não ligar os incêndios na região ao que tem acontecido em Brasília: apesar de fartas provas de corrupção, o senador Aécio Neves, que é presidente do PSDB, trabalha normalmente e Michel Temer e sua gangue são vistos em negociatas à luz do dia.
Foi esse ambiente de impunidade que provavelmente levou o prefeito de Humaitá, Herivaneo Seixas (PROS), a reunir os garimpeiros depois dos ataques, para comemorar, como conta o jornalista Altino Machado, um dos melhores do Brasil, que faz em seu facebook a melhor cobertura dos fatos e temas relacionados à região Norte do Brasil:
O prefeito Herivaneo Seixas (PROS) é suspeito de ter liderado a violenta reação de garimpeiros e populares que incendiaram carros e prédios do Ibama, ICMBio, Incra e que também tentaram destruir uma base da Marinha no município de Humaitá (AM). O prefeito teria distribuído refrigerantes e bebidas alcoólicas aos manifestantes antes e depois da revolta contra a operação Ouro Fino, desencadeada para combater a extração ilegal de ouro no Rio Madeira, e que resultou na apreensão e destruição de 37 balsas de garimpeiros. Herivaneo Seixas aparece neste vídeo comemorando as ações criminosas com populares. Cópia do vídeo está em poder da Polícia Federal, Exército e Força Nacional.
Foi Altino quem disparou o alarme do que estava acontecendo em Humaitá, com a publicação do primeiro vídeo sobre o incêndio. Agora, sua página tem divulgado outras informações, como o relato de um servidor do Instituto Chico Mendes que escapou dos ataques. Eles estavam em um barco que foi incendiado.
“Quando explodiu a revolta, nós ficamos um pouco reféns. Acabou que deu tudo certo. A gente acabou escoltado de Humaitá pelo pessoal da Marinha, do Exército, da Força Nacional. Fomos resgatados do barco, chegamos lá em Humaitá, dormimos do 54 bis e agora acabamos de chegar em Porto Velho, trouxemos roupas, tudo”, diz o servidor.
Os garimpeiros estão revoltados com a ação dos fiscais do Instituto Chico Mendes, do Ministério do Meio ambiente, e do Ibama, que combate a extração ilegal de ouro, que contamina os rios com mercúrio.
Esse tipo de ação já aconteceu outras vezes, mas a reação pública e violenta é um dado novo. As imagens mostram troca de tiro e o estouro de rojões na direção dos policiais e da Força Nacional.
Pelas imagens, é possível ver quem está colocando fogo em veículos do instituto e quem está atacando os prédios públicos — eles próprios gravaram.
Mas, apesar dessa abundância de provas e do flagrante, ninguém foi preso — pelo contrário, como mostra o vídeo, os garimpeiros foram comemorar, com a bebida oferecida pelo prefeito.
Diante de tudo isso, o registro que vem da memória é o áudio da conversa do senador Romero Jucá, defensor dos garimpeiros, pai do decreto que acabou com uma reserva mineral da Amazônia, com o ex-senador Sérgio Machado, antes do impeachment de Dilma Rousseff:
Jucá – Tem que resolver essa porra… Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.
Machado – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel (Temer).
Jucá – Só o Renan (Calheiros) que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá – Com o Supremo, com tudo.
Machado – Com tudo, aí parava tudo.
Jucá – É. Delimitava onde está, pronto.
Machado gravou a conversa para mostrar a extensão da quadrilha que a Lava Jato apontava e, com isso, diminuir sua pena, já que ele era um dos mais ativos quadrilheiros.
Como queria Jucá, foi delimitado.
Tirou-se Dilma com um golpe na Constituição — pedaladas fiscais? —, delimitou onde estava, e o Brasil se transformou numa terra em que ladrões governam, juízes agem sem limite, procuradores fazem a sua própria regra, numa república particular, todos ganham acima do teto.
A pergunta que os garimpeiros ilegais devem se fazer: por que só nós vamos ficar fora desse grande acordo nacional?
O jornalista Altino Machado avisa:
O país está chocado com a ofensiva criminosa dos garimpeiros que incendiaram prédios e carros do ICMBio, Incra e Ibama em Humaitá (AM). Mas situação pior será quando explodir o caos que envolve toda a região de Lábrea (AM), na confluência do Amazonas, Rondônia e Acre, dominada por grileiros, pistoleiros, traficantes, madeireiros, garimpeiros e foragidos da Justiça. Estou falando de bomba-relógio em terra sem lei.
Não é essa terra que está sem lei, Altino. É o Brasil.
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Para ver o vídeo da comemoração, acesse a página de Altino Machado no Facebook.