Prefeitos conseguiram enfiar o MP como aliado de Bolsonaro na defesa da cloroquina. Por Moisés Mendes

Atualizado em 31 de julho de 2020 às 23:11
Em live, Bolsonaro faz propaganda de cloroquina | Reprodução

Prefeitos da região da Serra conseguiram enfiar o Ministério Público como aliado do bolsonarismo no imbróglio da cloroquina.

Os procuradores da República Alexandre Schneider, Higor Rezende Pessoa e Wesley Miranda Alves assinaram com prefeitos de 25 municípios da região de Bento Gonçalves um termo de ajustamento de conduta (TAC) pelo qual os municípios se comprometem a disponibilizar remédios para o que seria o “tratamento precoce” de covid-19. A cloroquina é um deles.

Se assinaram o termo é porque as medicações funcionam? Mas se são seguras e funcionam, por que o paciente é obrigado a assinar um termo de consentimento dizendo que deseja tomar o coquetel?

Os procuradores irão explicar essa parceria? Por que o Ministério Público se transforma em aliado de um tratamento sem eficácia comprovada (e com danos provados), contestado pela ciência e com aliados avulsos que fazem testemunhos pessoais, sem valor como amostragem, sobre a cloroquina?

As informações sobre o acordo de procuradores e prefeitos está em reportagem do Carlos Rollsing em Zero Hora. Se o MP adere ao kit-Bolsonaro e carimba e avaliza o tratamento bolsonariano, quem pode nos salvar?

O aval do MP só vai aumentar a pressão dos que, por desinformação e desespero, pressionam os médicos nos corredores dos hospitais para que receitem os remédios a parentes com suspeita de Covid-19.

O Ministério Público passa a ser cúmplice dos que acabam por forçar os políticos a aderirem aos protocolos esdrúxulos do curandeiro Jair Bolsonaro. Por que o MP foi se meter nessa fria?

Hoje em Bagé Bolsonaro fez mais uma demonstração como garoto-propaganda da cloroquina, na tentativa de livrar o Exército de ter de explicar o estoque encalhado da droga.

Esta é a lista de prefeituras que vão oferecer os remédios:
André da Rocha, Barão, Bento Gonçalves, Boa Vista do Sul, Carlos Barbosa, Coronel Pillar, Cotiporã, Dois Lajeados, Fagundes Varela, Garibaldi, Guabiju, Guaporé, Monte Belo do Sul, Nova Bassano, Nova Prata, Paraí, Protásio Alves, Santa Teresa, São Jorge, São Valentim do Sul, São Vendelino, Serafina Corrêa, Veranópolis, Vila Flores, Vista Alegre do Prata.

A grande reportagem à espera de um repórter é que a mostraria os prefeitos decididos a não embarcar no populismo da cloroquina. Claro que eles existem, mas os jornais precisam ouvi-los.