
Um relatório de inteligência a que o DCM teve acesso aponta que integrantes da Prefeitura de Macapá, sob o comando do prefeito Dr. Furlan (Podemos), organizaram e coordenaram ataques virtuais contra o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP) e outros adversários políticos.
O documento, identificado como RELINT nº 01/2025, detalha trocas de mensagens, comandos operacionais e evidências de uso de servidores e equipamentos públicos para alimentar o grupo virtual que conduzia as ações.
De acordo com o relatório, o núcleo das operações funcionava a partir de um grupo de WhatsApp batizado FURLAN GOVERNADOR EM 2026, que reunia assessores diretos do gabinete do prefeito e da Secretaria Municipal de Comunicação (Secom).
“Mensagens coletadas indicam a existência de um comando político informal, ligado ao gabinete do prefeito, voltado à execução de ações de contra-informação e descredibilização de adversários”, descreve o documento.
Em outra passagem, o texto aponta que a equipe “atuava de maneira sistemática na defesa da imagem do gestor municipal, com uso de identidade visual, linguagem e recursos institucionais da própria prefeitura”.
O relatório cita ainda que parte do conteúdo era produzido em dependências públicas, com “artes, vídeos e legendas elaboradas por servidores efetivos e comissionados durante o horário de expediente”.

As publicações seguiam roteiros padronizados e horários de disparo determinados por coordenadores de mídia, também vinculados à administração municipal. Em uma das mensagens interceptadas, um assessor afirma: “Randolfe não pode pautar o debate. A ordem é responder em menos de 15 minutos.”
As mensagens obtidas pela equipe de inteligência indicam também a criação de perfis falsos no X (antigo Twitter) e no Instagram para ampliar o alcance dos ataques. “O objetivo era construir a percepção de apoio popular e neutralizar críticas ao prefeito e à gestão municipal”, relata o texto.
Alguns desses perfis foram utilizados para disseminar ofensas contra jornalistas, militantes ambientais e vereadores de oposição. O documento alerta que a estrutura era “sofisticada, com divisão de tarefas e utilização de redes de distribuição automáticas”.
O material inclui listas de servidores, cronogramas de postagem e mensagens que sugerem liberação irregular de funcionários para atuação política. “Há indícios de que servidores foram dispensados de suas funções regulares para participar das atividades digitais durante o expediente”, aponta o texto. Juristas consultados pelo DCM afirmam que, se confirmada, a prática pode configurar improbidade administrativa, crime eleitoral e uso indevido da máquina pública.
Fontes com acesso ao processo confirmaram que o relatório foi encaminhado a órgãos de controle estaduais e federais. O episódio reacende o debate sobre o uso político de cargos públicos e o papel de prefeituras na guerra digital.
Especialistas lembram que o fenômeno, antes restrito a campanhas eleitorais, hoje se espalha por gabinetes e repartições, com efeitos diretos sobre o debate público. A depender do desdobramento das investigações, o caso pode se tornar o mais grave episódio de uso de estrutura municipal para ataques virtuais no Amapá.


