Presidente da COP30 alerta que preços abusivos de hotéis ameaçam legitimidade do evento

Atualizado em 2 de agosto de 2025 às 9:43
André Corrêa do Lago, presidente da COP30. Foto: reprodução

A menos de 100 dias da COP30, marcada para novembro em Belém, os altos custos de hospedagem na capital paraense colocam em risco a participação dos países mais pobres e vulneráveis às mudanças climáticas – justamente as nações que deveriam ter voz central no evento. Diárias que chegam a US$ 700, dez vezes acima da média local, podem esvaziar a conferência e comprometer sua legitimidade. Com informações do G1.

“Com a ausência dos países pobres, ficaria uma COP sem legitimidade”, alertou André Corrêa do Lago, presidente da COP30. O orçamento padrão das delegações desses países é de apenas US$ 143 diários, incluindo alimentação e hospedagem, valor insuficiente para os preços praticados atualmente. A situação levou 25 países, incluindo membros do bloco dos Países Menos Desenvolvidos (LDC), a enviarem carta de protesto.

Em um levantamento feito pelo DCM na plataforma Airbnb, é possível encontrar estadias até 10 vezes mais baratas em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro durante o mesmo período do evento. Essas cidades, as duas mais populosas, também são as mais caras entre as metrópoles brasileiras.

Veja o comparativo: 

O governo paraense, sob comando de Helder Barbalho (MDB), afirma estar buscando soluções para ampliar a oferta de hospedagem, mas reconhece não ter poder para interferir nos preços. Uma plataforma prometida com diárias a US$ 220 mostrou-se ineficaz, com valores reais acima de US$ 300. A alternativa dos navios também frustrou, com cabines a US$ 600.

Márcio Astrini, do Observatório do Clima, alerta para o risco de questionamentos futuros: “Países com delegações reduzidas podem contestar as resoluções da COP, argumentando que foram impedidos de participar plenamente dos debates”. O problema se estende além das delegações oficiais – organizações da sociedade civil e pesquisadores também enfrentam dificuldades.

Vanessa Robinson, consultora que auxilia ONGs internacionais, relata casos extremos: “Recebi uma oferta de R$ 77 mil para estadia, sem incluir comissões de 20%”.

Mesmo instituições europeias encontram obstáculos, enquanto grupos de países como Indonésia e México veem sua participação ser inviabilizada.

O Instituto Perifa Sustentável, que já participou de cinco COPs ao redor do mundo, pode ficar de fora do evento em Belém. Mahryan Sampaio, co-fundadora da organização, revela: “A média é de R$ 60 mil por pessoa para os dias do evento, muito acima do que pagamos no exterior”. A situação ironiza o discurso oficial de uma “COP da Amazônia” participativa e inclusiva.

Enquanto isso, o governo federal tenta negociar soluções de última hora através da Casa Civil, mas o tempo urge. A menos que medidas eficazes sejam implementadas rapidamente, a COP30 corre o risco de se tornar um evento de países ricos discutindo o futuro dos pobres – sem a presença destes.