
O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, afirmou que a realização da conferência climática em Belém representa uma resposta direta ao negacionismo climático e ao boicote promovido pelo governo de Donald Trump. Segundo ele, a agenda ambiental “resistiu a um ano de bordoadas” e segue com apoio expressivo de países comprometidos com o Acordo de Paris. Em entrevista ao Globo, Corrêa do Lago destacou que a presença de dezenas de delegações em Belém simboliza a força do multilateralismo:
(…) Mais de 50 países deram apoio político ao TFFF, mas menos de dez se comprometeram com aportes financeiros. Isso o decepcionou?
Não estou nem um pouco decepcionado. Ao contrário: penso que foi um grande sucesso. A sinalização foi muito clara. O fundo é inovador, e muitos países ainda têm que fazer discussões internas para confirmar a entrada.
Trump refuta o aquecimento global e voltou a retirar os EUA do Acordo de Paris. A cúpula dará alguma resposta a essa nova onda de negacionismo?
O próprio fato de a COP acontecer já é uma grande reação. Até o momento, não há nenhuma indicação de outro país que vá sair do Acordo de Paris. Algo que, aliás, também não ocorreu da outra vez (no primeiro governo de Trump). Realizar a COP é uma maneira de dizer que o mundo ainda acredita que a melhor maneira de lidar com o tema do clima é através do multilateralismo, mesmo que os EUA tenham uma opinião diferente.

O boicote dos EUA pode atrapalhar a conferência?
Ignorar a COP é, de certa forma, uma confirmação da decisão de sair do Acordo. Uma coisa é os Estados Unidos ficarem em um organismo internacional e lutarem pelas suas posições. Se eles já anunciaram que vão sair do acordo, o mais lógico é não participar.
Apesar da ausência do governo americano, alguns prefeitos e governadores democratas dos EUA vieram a Belém. A presença deles terá algum efeito prático?
Se só estivéssemos pensando na negociação do clima, não teria, porque prefeitos e governadores não podem negociar em nome de seus países. No entanto, cidades e estados podem implementar (políticas climáticas). Então a presença deles fortalece a ideia de que será uma COP da implementação.
(…) A eliminação dos combustíveis fósseis não está na pauta oficial da COP, mas é tema onipresente nos debates em Belém. O que esperar dessa agenda?
O presidente Lula está muito convencido de que algo terá que ser dito na COP sobre os combustíveis fósseis. Ele falou no tema duas vezes na cúpula de líderes, em um tom que impressionou. Não está mandatado (na pauta oficial da conferência), mas alguma coisa pode sair.