Presidente da Fiemg chama trabalhador formal de “idiota” e culpa Bolsa Família por falta de mão de obra

Atualizado em 5 de julho de 2025 às 19:33
O presidente Flávio Roscoe da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Foto: Reprodução

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, escancarou o desprezo por políticas sociais e pela proteção ao trabalhador brasileiro. Num discurso que ecoa a lógica de concentração de renda e retirada de direitos, Roscoe chegou a afirmar que “o idiota é quem trabalha com carteira assinada”, minimizando os avanços trabalhistas e culpando programas como o Bolsa Família pela suposta falta de mão de obra nas indústrias.

Na visão do empresário, o trabalhador formal — que contribui com impostos e cumpre exigências legais — estaria em desvantagem frente aos que recebem auxílio social. “O cara que está há 20 anos no programa social se aposenta aos 45 anos. Quem trabalha 20 anos, não se aposenta. Ora, está tudo errado”, declarou, ignorando por completo o fato de que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e onde o acesso à aposentadoria é um desafio para milhões. O tom generalizante e ofensivo revela uma tentativa de deslegitimar políticas públicas que buscam reduzir desigualdades históricas.

Roscoe também distorce dados sobre desemprego e informalidade. Mesmo com recordes de arrecadação e a menor taxa oficial de desemprego desde 2014, ele sustenta que o país vive uma crise de produtividade por culpa do governo. Seu argumento parte da premissa de que o Estado incentiva a ociosidade, sem considerar que boa parte dos beneficiários do Bolsa Família vive em regiões de baixa oferta de emprego ou sob condições precárias de trabalho. “O percentual da população desocupada é enorme e muito maior que a do restante dos países”, disse, ignorando realidades regionais e a estrutura do mercado informal no Brasil.

Por fim, ao defender uma “reinvenção” da CLT, o presidente da Fiemg sinaliza claramente que seu projeto de país envolve menos direitos para os mais pobres e mais liberdade para os grandes empresários lucrarem sem contrapartida social. Seu discurso sugere a construção de um governo liberal voltado aos interesses do topo da pirâmide, em detrimento da proteção mínima a quem vive do próprio trabalho.

Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS). FOTO: Reprodução