Nome mais robusto entre os 16 presos de ontem na Operação Vagatomia da Polícia Federal, José Fernando Pinto da Costa doou R$ 500 mil para a campanha de João Doria ao governo do Estado de São Paulo.
Bagatela? Nem tanto. Doador pego com a mão na cumbuca sempre tem relacionamento estreito com o candidato? Mais ou menos.
Desde a promulgação da lei que proíbe empresas de financiarem campanhas, as doações precisam ser feitas por pessoas físicas. Convenhamos que R$ 500 mil para qualquer pessoa física não é exatamente uma gorjeta.
E quanto às partes envolvidas neste caso, não eram totalmente desconhecidas entre si.
O Lide, empresa da qual João Doria é fundador (cuja presidência foi transferida para o filho ao estilo para-inglês-ver), já concedeu o Prêmio Líderes do Brasil a José Fernando Pinto da Costa.
O grupo de “Líderes Empresariais” de Doria considerou-o personalidade do ano pelos serviços prestados à educação. O evento ocorreu na capital paulista, no Teatro Santander.
Então o resumo da ópera é este: Doria afagou o empresário que por sua vez lhe doou uma grana preta e colaborou na eleição do tucano para governador. A tal nova política.
É no mínimo curioso que João Doria, tão minuciosamente dedicado à causa da Educação a ponto de mandar recolher material didático por não tolerar “ideologia de gênero”, tenha feito vistas grossas para José Fernando Pinto da Costa.
Proprietário e reitor da Universidade Brasil, Pinto da Costa encabeça um esquema que pode ter fraudado algo como R$ 500 milhões do Fies.
Ele também é acusado de vender vagas para cursos de Medicina a R$ 120 mil por aluno. Comercializava ainda transferências de alunos para o exterior, principalmente Paraguai e Bolívia, e depois intermediava o Revalida, exame de reconhecimento de diploma.
Para a Polícia Federal, ele é chefe de organização criminosa.
Para Doria ele é um simples doador, para o Lide foi Personalidade do Ano e para o governo Temer ele foi merecedor da medalha de mérito Oswaldo Cruz em “reconhecimento pela atuação destacada no campo das atividades científicas, educacionais, culturais e administrativas pelos resultados benéficos à saúde de milhares de brasileiros”.
Nenhum governo de esquerda nunca deu um pirulito para este senhor.
Esses esquemas fraudulentos certamente explicam a rápida ascensão da Universidade Brasil, que hoje possui campi em três cidades.
Engenheiro de formação, antes de se tornar empresário do ramo que frauda programas sociais de governos e deteriora a Educação pública, José Fernando Pinto da Costa exerceu a profissão em obras do metrô de São Paulo. Aquele mesmo metrô, que está em mãos tucanas há séculos e enlameado por casos de corrupção até o bico.
Não tem como ser coincidência. As escolas PSDB e Metrô não dão bons frutos.
Em 2017, Costa Pinto inaugurou a unidade de Fernandópolis ao lado de lideranças políticas. Chamado de “visionário da educação” pelo jornalzinho chapa branca da cidade, em tom de comício ele prometeu 1.200 alunos morando e “contribuindo com a cidade”.
A principal fonte de divulgação do evento foi o programa de Amaury Jr, cuja escolha parece obvia para quem visa uma audiência com cacife para pagar R$ 120 mil pelo ingresso na faculdade.
Já o campus de Descalvado nasceu depois de Costa Pinto assumir a gestão da então Unicastelo e herdar dívidas trabalhistas que ultrapassam os R$ 38 milhões. Na ocasião ele também prometeu saldar os encargos, coisa que não tinha feito.
Mas o governador João Doria nunca soube de nada disso.