Pressa para condenar Lula: TRF-4 nem espera Gebran voltar das férias para mandar processo do sítio de Atibaia para o gabinete dele

Atualizado em 23 de julho de 2019 às 12:46
Gebran. Foto: Sylvio Sirangelo | TRF4

A pressa para condenar Lula é tão grande que o Tribunal Regional Federal da 4a. Região nem esperou que o desembargador João Pedro Gebran Neto retornasse de férias para mandar o processo do sítio de Atibaia para o seu gabinete.

O processo estava com a desembargadora Cláudia Cristina Cristofani, relatora do incidente de exceção de suspeição levantado pela defesa do ex-presidente.

Nesse incidente, os advogados defendem o afastamento do ex-presidente da corte Carlos Eduardo Thompson Flores do julgamento de Lula.

No ano passado, quando presidia o TRF-4, Thompson Flores chegou a telefonar para o então diretor da Polícia Federal Rogério Galloro, para determinar que a ordem de outro desembargador não fosse cumprida.

Quem contou foi o próprio Galloro, para explicar por que não havia libertado Lula. Thompson Flores nega, mas a Justiça até agora não atendeu ao pedido dos advogados de Lula para tomar o depoimento do ex-diretor da PF, para que confirme ou não o que disse em entrevista gravada.

O telefonema é um indício forte de que Thompson Flores tinha interesse pessoal na manutenção de Lula na cadeia.

Apesar disso, na terça-feira da semana passada, o Ministério Público entregou seu parecer pela manutenção de Thompson Flores no processo sobre o sítio de Atibaia.

No dia seguinte, a desembargadora marcou o julgamento da exceção de suspeição, o que surpreendeu a defesa de Lula.

Outros casos de exceção de suspeição, levantados pelos próprios advogados do ex-presidente, demoraram até quatro meses para serem colocados na pauta de julgamento.

Na quinta-feira da semana passada, a questão foi julgada, e Thompson mantido no processo, como já era esperado.

O tribunal imediatamente publicou o resultado, o que também é incomum, e remeteu a ação para o relator, apesar de seu retorno ao serviço estar previsto para acontecer só no dia 15 de agosto.

A Justiça Federal não costuma ser tão célere assim.

Essa pressa faz despertar a suspeita de que o tribunal não quer que Lula seja solto. Em setembro, ele terá direito à progressão de regime e poderá cumprir a pena em casa.

Além disso, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal poderá terminar de julgar em agosto o HC apresentado pela defesa de Lula sobre a parcialidade de Moro.

Caso o HC seja concedido, o processo sobre o triplex poderá até ser anulado.

Nessa hipótese, Lula iria para casa, a menos que houvesse outra condenação em segunda instância, o que pode acontecer caso o processo sobre o sítio de Atibaia seja julgado antes.

Nenhum desembargador admite que esteja trabalhando com a lógica de acelerar a tramitação para evitar a liberdade do ex-presidente.

Mas a pressa é suspeita.

O tribunal poderia, pelo menos, esperar Gebran voltar de férias para mandar o processo para ele. Ou não ter marcado do dia para noite o julgamento da exceção de suspeição de Thompson Flores.

Há ainda outro incidente de exceção de suspeição levantado nesse mesmo processo.

É o do procurador regional Maurício Gotardo Gerum, que é primo em primeiro grau de um dos autores da denúncia contra Lula, Diogo Castor de Mattos.

Será que TRF-4 continuará batendo recordes de velocidade para colocar esse outro incidente em julgamento?

Nessa caso, os desembargadores do TRF-4 serão imbatíveis na conquista do Prêmio Innovare, que a Globo criou para premiar quem contribui com iniciativas para modernizar a Justiça.

Sergio Moro e Carmem Lúcia já têm o troféu deles em casa, conquistado sob aplausos da família Marinho.

Os desembargadores do TRF-4, pelo visto, também querem ser homenageados.