Principal jornal da Itália relata encontro de Lula com Papa e suspeitas de complô da Lava Jato. Por Willy Delvalle

Atualizado em 13 de fevereiro de 2020 às 21:08
Lula encontra o Papa Francisco.
Foto: Ricardo Stuckert

O principal jornal da Itália, Corriere della Sera, destacou o encontro do Papa Francisco com ex-presidente Lula nesta quinta-feira, evocando ao mesmo tempo as suspeitas de complô da Operação Lava Jato.

“Lula recebido pelo Papa no Vaticano: ‘Um mundo mais justo é necessário'” diz a manchete do artigo, assinado por Gian Guido Vecchi.

O repórter relata os detalhes do encontro. “A reunião, não anunciada pela Santa Sé, começou às 15h49 e durou em torno de uma hora. Lula chegou pela Porta do Perugino, atrás de Santa Marta (prédio onde vive o Papa Francisco)”.

Em seguida, aponta as duas fotos publicadas por Lula no Twitter, “uma com os olhos fechados enquanto Bergoglio colocava sua mão sobre sua cabeça. Lula escrevia: ‘Encontro com o Papa Francisco para falar de um mundo mais justo e fraterno”.

Com o subtítulo “O Processo”, o jornal de Milão relata que Lula foi condenado pela operação Lava Jato, que caracteriza como uma “Mãos Limpas brasileira, ao mesmo tempo acompanhada no país por uma série de controvérsias e suspeitas de complô político”.

A publicação lembra que “Glenn Greenwald, prêmio Pulitzer em 2014, publicou uma investigação baseada em documentos confidenciais segundo os quais os inquéritos contra Lula tinham como único objetivo excluir o líder do Partido dos Trabalhadores das eleições, vencidas na sequência pelo candidato de extrema direita Jair Bolsonaro”. E observa que “o juiz que condenou Lula, Sérgio (sic) Moro, é hoje ministro da Justiça do governo Bolsonaro”.

O periódico milanês fala também da troca de cartas entre Lula e o Papa.

“No ano passado, Lula escreveu ao papa da prisão: ‘Continuo lutando aqui, para provar minha inocência’, e o agradeceu ‘pelo apoio que ele trouxe ao povo brasileiro, pela injustiça e pela defesa dos direitos dos pobres’. Francisco lhe respondeu no início de maio, numa carta tornada pública por Lula na qual o pontífice lhe escreveu ‘para não desanimar’ face às provações: ‘Graças a Jesus ressuscitado pode-se passar das trevas à luz, da escravidão deste mundo à liberdade da terra prometida, do pecado que nos separa de Deus e dos irmãos à amizade que nos une a ele, da incredulidade e do desespero à alegria serena e profunda daqueles que creem que no fim o bem triunfará sobre o mal, a verdade vencerá a mentira e a salvação vencerá a condenação”. 

Se a referência negativa ao ministro da justiça não passou em branco, a oposição papal ao presidente brasileiro ficou ainda mais clara, desta vez em relação à Amazônia.

No subtítulo “Injustiça e crime”, o jornal italiano destaca um trecho do documento pós-sinodal “Querida Amazônia”, publicado nesta quarta-feira.

O trecho destacado pela reportagem do Corriere della Sera diz:

“Às operações econômicas, nacionais e internacionais, que prejudicam a Amazônia e não respeitam o direito dos povos originários ao território e sua demarcação, à autodeterminação e ao consentimento prévio, é necessário dar o nome que lhes pertence: injustiça e crime. Quando algumas empresas sedentas por ganhos fáceis dominam a terra e até privatizam a água potável, ou quando as autoridades dão luz verde às indústrias madeireiras, projetos de mineração ou petróleo e outras atividades que devastam florestas e poluem o meio ambiente, o meio ambiente, as relações econômicas são indevidamente transformadas e se tornam uma ferramenta que mata”.