Prisão de Temer acirra reação à Lava Jato no Congresso. Por Helena Chagas

Atualizado em 10 de maio de 2019 às 7:02
O ex-presidente Michel Temer (MDB-SP) Foto: Andressa Anholete / AFP

Publicado originalmente no site Os Divergentes

POR HELENA CHAGAS

Aparentemente, não há relação direta entre os dois principais fatos políticos de hoje: a volta do ex-presidente Michel Temer à prisão e a derrota do ministro Sergio Moro na comissão especial do Congresso que examina a MP 870 e tirou o Coaf da Justiça para a Economia. Mas são dois capítulos do mesmo enredo, que tem como trama central a influência da Lava Jato nas decisões do Congresso e a reação do establishment político. Vai ficando claro que tudo continua girando em torno disso – e que votações importantes, como a da Previdência, podem acabar sendo atropeladas.

A prisão de Temer não é uma novidade, e não se achará, no Congresso, um só politico – do MDB ou de qualquer outro partido – disposto a suar a camisa na defesa do ex-presidente, agora réu em seis ações. A questão não é Temer, mas sim o velho efeito Orloff sobre boa parte dos políticos: “eu sou você amanhã”, tem muita gente pensando a esta altura. Na tarde desta quarta, no Cafezinho do Senado, um personagem importante contava que, entre seus pares, havia grande apreensão com a situação de Michel Temer, pois “a fila anda”.

Com o ex-presidente preso, boa parte de seus companheiros do MDB e de políticos de partidos do Centrão, como o DEM, o PR, o PP, o PRB e outros, igualmente citados na Lava Jato e assemelhadas, tendem a paralisar votações e articulações congressuais para colocar no topo da lista de prioridades uma ofensiva para limitar o poder e o alcance das ações d dos agentes de investigação.

Tal reação vem sendo articulada há tempos, e ainda não é possível avaliar sua dimensão, mas uma coisa é certa: ninguém vota Previdência e outras reformas profundas num clima desses. Ao contrário, a pauta passa a ser objeto de barganha para aprovação de medidas para conter a Lava Jato.

A derrota de Moro – e, por tabela, do Planalto – nesta manhã faz parte dessa ofensiva e deve ser a primeira de uma série. Bolsonaro e seus articuladores sabem disso, e esta pode ter sido a razão pela qual eles, inicialmente, tenham concordado em tirar o Coaf de Moro para apaziguar os ânimos parlamentares. O ex-juiz, porém, parece ter esticado a corda no Planalto, acenando até com um eventual pedido de demissão, e reenquadrou o chefe.

O assunto ainda será votado nos plenários da Câmara e do Senado,e em tese ainda seria possível que o Coaf voltasse à Justiça. Todo mundo sabe, porém, que a questão não é exatamente o Coaf – até porque o ministro Paulo Guedes já anunciou publicamente que manterá a mesma estrutura e funções dadas pelo colega na Justiça. O órgão passou a ser, isso sim, símbolo de uma briga bem maior, da qual dependerá o destino de muita gente daqui para frente, incluindo aí o da Lava Jato e o do próprio Sérgio Moro.