Privatização da Petrobras: conversa para o mercado dormir. Por Helena Chagas

Atualizado em 19 de abril de 2019 às 17:32
Fachada da sede da Petrobras no Rio de Janeiro (Foto: Agência Petrobras / Stéferson Faria)

Publicado originalmente no site Os Divergentes

POR HELENA CHAGAS

As opiniões de Jair Bolsonaro sobre a Petrobras têm a firmeza de uma biruta de aeroporto, mas não é para ninguém levar muito a sério. Até onde vai a visão do bom senso – que alguns no governo têm, sim, embora escondam – , a Petrobras não será privatizada. Poderá vender subsidiárias, refinarias, mas seu coração continuará estatal.

A afirmação do presidente ao Blog de Natuza Nery, no G1, de que teria uma “simpatia inicial” pela privatização de nossa maior estatal pode ser, segundo interlocutores, jogada na conta de confusão que ele próprio armou ao telefonar para o presidente da companhia e mandar suspender o aumento do diesel da semana passada.

De lá para cá, todos os esforços da equipe econômica têm se voltado a jogar água fria nesse óleo quente, que no primeiro dia desvalorizou as ações da Petrobras e resultou em perda de R$ 32 bilhões. Foram feitas reuniões, o presidente jurou que nunca interferiu na política de preços da empresa e, obviamente, um novo aumento foi anunciado – discretamente menor.

A confiança dos investidores, porém, continuou fortemente abalada. Na visão do governo, portanto, nada como falar de privatização para dar um certo ânimo a essa gente.

O ministro Paulo Guedes aproveitou longa entrevista à GloboNews para levantar a lebre referindo-se a um certo “levantar de sobrancelhas” presidencial na reunião sobre o tema, quando a questão teria sido levantada. No dia seguinte, indagado, Bolsonaro confirmou a “simpatia”, embora na campanha eleitoral e em ocasiões anteriores tenha se manifestado contrário à privatização da Petrobras.

Como no teatro, assim é se lhe parece, e cada um acredita no Bolsonaro que quiser. A informação concreta é de que, com ou sem discurso, a Petrobras não será privatizada.