Privatização do SUS é o fantasma que continua tirando o sono dos especialistas em saúde pública

Atualizado em 31 de outubro de 2020 às 8:19
A lógica da ideia, concebida pela equipe do ministro Paulo Guedes, é entregar sistema de saúde pública, responsável para que a tragédia da covid-19 não seja ainda maior no Brasil, a empresas privadas.

Originalmente publicado em REDE BRASIL ATUAL

Por Eduardo Maretti

As entidades e profissionais vinculados à defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) estão se mobilizando, depois de o presidente da República afirmar que vai reeditar o decreto que abriria as portas para a privatização das UBSs, revogado na quarta-feira (28), um dia depois de ser publicado no Diário Oficial. “Se o decreto foi revogado, a ideia não acabou. Não podemos baixar a guarda. Neste momento é fundamental fortalecer o SUS. É possível. Temos caminhos”, diz a presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo e Silva.

Segundo ela, as entidades e profissionais estão organizando um ato importante e mobilizações em defesa do SUS. Já na segunda-feira (2), farão uma reunião para definir datas e estratégias. “Mas estamos tendo apoio dos profissionais. A sociedade acordou para defender o SUS. Isso já é um começo”, diz a dirigente.

Na quinta (29), durante sua live semanal, Bolsonaro afirmou que não pretendeu facilitar a privatização do SUS e prometeu que nova versão da proposta será publicada. “Ontem, tivemos um probleminha em relação a um decreto sobre o SUS, que não tinha nada a ver com privatização, mas lamentavelmente, grande parte da mídia fez um carnaval em cima disso:  ‘Vai privatizar o SUS’, ‘o pobre não vai poder ser atendido pelo SUS’. Revoguei o decreto, mas fiz uma nota dizendo que nos próximos dias poderemos reeditá-lo, o que deve acontecer na semana que vem.”

A lógica da ideia, concebida pela equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes (Economia), de acordo com a Abrasco, é entregar o sistema de saúde a diferentes planos de saúde, desintegrando a estrutura pública do país. Um retrocesso que, segundo Gulnar, não passou por avaliação do controle social, Conselho Nacional de Saúde ou nenhuma outra representação da sociedade.

Vacina russa

Enquanto isso, no Brasil e no mundo prossegue a corrida por uma vacina eficiente contra o coranavírus. Segundo a Agência Reuters, o Fundo de Investimentos Diretos da Rússia (RDIF) e a empresa União Química Farmacêutica Nacional, em parceria com o governo do Paraná, anunciaram hoje (30) que deram entrada nos documentos preliminares para o registro da vacina contra Covid-19 Sputnik V (da Rússia) junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Por sua vez, ainda segunda a Reuters, a Anvisa afirmou, após o anúncio do RDIF, que ainda não existe um pedido junto ao órgão para a realização de estudos clínicos com a vacina russa.

“A Anvisa recebeu nesta quinta-feira um e-mail do laboratório União Química comunicando sobre a apresentação apenas de documentos prévios. Os documentos foram enviados com um pedido para que a Anvisa faça uma análise prévia, antes da apresentação formal do pedido de pesquisa”, afirmou a agência em nota.

Segundo a Anvisa, “as informações enviadas não são um pedido formal de autorização para a pesquisa e não são suficientes para a autorização da Anvisa”. “Na prática, a pesquisa não está autorizada e esse pedido ainda não foi feito pelo laboratório”, concluiu.