Procurador regional do TRF-4 confirma que é primo de membro da Lava Jato, mas rejeita afastamento

Atualizado em 15 de julho de 2019 às 20:55
Maurício Gotardo Gerum e o primo Diogo com o notório Dallagnol

O procurador regional da República que atua no TRF-4, Maurício Gotardo Gerum, confirmou hoje que é primo do procurador da república Diogo Castor de Matos, um dos autores da maior parte das denúncias da Lava Jato, incluindo a do ex-presidente Lula.

A defesa do ex-presidente levantou há quase dois meses a exceção de suspeição contra o procurador, que se recusa a deixar os processos. Maurício Gotardo Gerum não acha que o grau de parentesco com um dos procuradores da Lava Jato seja motivo para se declarar suspeito.

“Conforme já exposto em manifestação apresentada nos autos da Apelação Criminal nº 5021365-32.2017.404.7000, não possui este membro do Ministério Público Federal relação de parentesco próxima com o Procurador da República Diogo Castor de Matos ou com o Advogado Rodrigo Castor de Matos apta a caracterizar o impedimento previsto no artigo 258 do Código de Processo Penal. Como parece não ter sido compreendido pela douta defesa, reforça-se o texto legal que não classifica primos dentre os parentes que acarretam o impedimento”, escreveu ele.

A rigor, o Código de Processo Penal trata de parentescos diretos, como ascendentes ou descendentes e cônjuges. Porém há jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça que trata da necessidade de se observar uma “cláusula geral de imparcialidade” nos exames de suspeição.

Para a higiene processual, melhor seria que se afastasse.

Maurício Gotardo Gerum atua também nos processos decorrentes do acordo de delação premiada de João Santana e de Mônica Moura, defendidos por outro primo, o advogado Rodrigo Castor de Mattos, irmão do Diogo.

Mas o procurador nem toca na delação de João Santana e de Mônica Moura. Diz apenas que o fato de ser primo de Rodrigo Castor de Mattos não o obriga a se declarar suspeito.

Na Lava Jato, como se pode notar pelo comportamento de Deltan Dallagnol e do próprio Gotardo Gerum, os procuradores se consideram imprescindíveis.

Não largam os processos, nem para que seja mantida ao menos a aparência de imparcialidade.

Diogo Castor de Mattos não atua mais nos processos da Lava Jato, mas se mantém vinculado, por força legal, aos casos em andamento.

Em um deles, o do sítio de Atibaia, Maurício Gotardo Gerum já se manifestou e pediu o aumento da pena imposta a Lula pela juíza Gabriela Hardt, de 12 anos e 11 meses.

Gotardo Gerum pediu que Lula seja condenado até pelo crime do qual foi absolvido pela juíza Gabriela Hardt, o de corrupção passiva em relação a uma reforma feita por José Carlos Bumlai.

O procurador regional também defendeu o agravamento da pena em razão do poder que Lula teria para nomeações na Petrobras.

Quando a reforma no sítio de propriedade de Fernando Bittar foi feita, Lula já nem era mais presidente da república.

Não era, portanto, funcionário público, o que, em tese, afasta o crime de corrupção passiva. Como ex-presidente, não poderia nomear nem executar qualquer ato de ofício em troca de supostas vantagens.

No processo, também não há uma única prova que ligue as reformas no sítio a um suposto (nunca comprovado) caixa geral de propinas da Petrobras.

Gotardo Gerum, no entanto, quer penas mais elevadas para Lula, assim como seu primo defendeu na primeira instância.

Joaquim de Carvalho
Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com