O silêncio barulhento de Roberto Carlos sobre a lei das biografias

Atualizado em 17 de outubro de 2014 às 17:12
Ele
Ele

 

No alarido em torno da lei das biografias, uma ausência gigantesca chama a atenção: onde está ele, o rei Roberto Carlos?

Roberto é o nome principal do grupo “Procure Saber”. A proibição de sua biografia, escrita por Paulo César de Araújo, é um marco histórico. É o chamado case de sucesso para eles.

Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan e Gilberto Gil expuseram suas posições. Chico foi o mais explícito. Num artigo para o Globo — pelo qual teve de pedir desculpas a Araújo por contar que não deu uma entrevista que deu — , Chico cita Roberto algumas vezes. “Pensei que o Roberto Carlos tivesse o direito de preservar sua vida pessoal. Parece que não”. Na Folha de sexta (18), abordado na rua, ele admitiu que não estava por dentro da situação, que pode ter se enganado e que “julgava que estava tendo uma posição sensata”.

Araújo apontou que a tese central do “movimento” presidido por Paula Lavigne tem seus pilares no processo que Roberto moveu contra ele: a privacidade e o dinheiro ganho em cima do nome do artista. Roberto também foi mencionado algumas vezes no telecatch entre Barbara Gancia e Lavigne no “Saia Justa”.

Ele está em todo lugar, mas não está em lugar nenhum. Ele é o mentor, o inspirador da coisa. Quando ele vai se manifestar?

Minha opinião: nunca.

Roberto não fala. Roberto manda falar. Ao contrário dos seus colegas, ele está muito preparado para lidar com o tema. Ao contrário dos seus colegas, que sempre deram a cara a tapa, ele opera de outra maneira. Tem um time que cuida de seus interesses. Eles estão acompanhando há muito tempo a tramitação do projeto que facilita a publicação de biografias não autorizadas em Brasília.

O advogado de Roberto, Marco Antonio Campos, deu um depoimento ao Estadão. Para ele, Roberto prefere a tutela inibitória a buscar uma indenização. Roberto não quer dinheiro. Isso não resolveria o ataque à sua “dignidade humana”. Ele não quer ir para cima; seu desejo é que nada que lhe desagrade apareça. Está na Constituição. Campos garantiu ainda que RC gosta de livros. “Tem mais de cem biografias”. (Ganha uma calça Calhambeque quem encontrar uma delas).

A grande questão nesse debate é o choque entre dois direitos constitucionais: o da liberdade de expressão e o da privacidade. “A privacidade do indivíduo está de acordo com a vida que ele leva na sociedade. Essas pessoas são públicas”, me diz o advogado Glauco Gumerato Ramos, membro dos institutos Brasileiro, Ibero Americano e Pan Americano de Direito Processual. “A história desses artistas pertence ao Brasil. Se alguém publicar mentiras, que responda por isso”.

Mas e o valor às vezes irrisório das indenizações por dano moral? “É total falta de critério. Há valores altos. Mas temos um problema cultural: nossa democracia tem muitos resquícios anti-republicanos e monárquicos. Tudo fica a cargo da arbitrariedade do juiz. A decisão depende totalmente da subjetividade do magistrado. Por que não se tabelam os valores? Porque o juiz perderia o poder”.

Em 2007, quando terminou a audiência que determinou o recolhimento da biografia de RC, o juiz presenteou o cantor com um CD que ele havia gravado. Houve uma sessão de fotos e autógrafos na seqüência.

Isso é interessante para entender um pouco o Brasil? Eu acho que sim. O que o Roberto acha?

Jamais saberemos. Roberto podia contribuir democraticamente para essa discussão, mas não é do seu feitio. Vai deixar que outros falem e ajam por ele. É a sua maneira de agir. Ele é o rei. Os outros são seus peões.