Professora demitida após ataque de bolsonaristas diz que escola “escolheu o lado criminoso”

Atualizado em 11 de maio de 2023 às 0:04
Camiseta vermelha com frase de Hélio Oiticica
Educadora recebeu ataques após usar camiseta com frase de Hélio Oiticica – Arquivo Pessoal

A professora que foi demitida de um colégio particular em Aparecida de Goiânia após os ataques que recebeu do deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) disse que, ao ceder à pressão política, a escola “escolheu o lado mentiroso e criminoso da história”.

“Eu fiquei horrorizada (com a decisão da escola). Vou usar essa palavra. Foi a minha sensação. Eles falaram que estavam me protegendo. Como uma escola diz que me protege, se escolhe o outro lado da história, que é o mentiroso e criminoso? Como eu vou me sentir confortável, passando por essa situação, se a própria instituição que deveria agir em defesa da Educação está assumindo o outro lado?”, questionou a educadora, em entrevista à TV Democracia.

A professora de História da Arte, que não teve seu nome divulgado por questões de segurança, disse que seu caso não é isolado e que perseguições como essa a profissionais da área são comuns no estado.

O episódio aconteceu no Colégio Expressão, localizado na Região Metropolitana de Goiânia, na semana passada. A docente virou alvo do parlamentar quando publicou uma foto em que aparecia na sala de aula com uma camiseta vermelha que fazia referência à obra “Seja marginal, Seja herói”, do artista plástico Hélio Oiticica.

Gustavo Gayer falando e gesticulando
Deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) – Reprodução

O deputado federal repostou a foto da professora em suas redes sociais e associou a roupa, de forma errônea, ao Partido dos Trabalhadores. “Professora de história com look petista em sala de aula”, disse ele, contra a educadora que afirmou que usa camisetas de artistas para dar aulas porque quer ampliar o acesso dos alunos às obras estudadas.

“Muitas pessoas estão me acusando de ser uma ‘doutrinadora’, de ‘promover ações a favor da bandidagem’. Eu já li, acho que umas quinze vezes, que meu ‘CPF tem que ser cancelado’. Vi pessoas me xingando, falando que além de ser demitida eu devia ser criminalizada. E então penso: onde está o erro de uma professora de Arte ensinar Arte?”, reclamou ela.

A docente disse ainda que um dos sócios da escola ligou desesperado dizendo que ela não poderia mais voltar à instituição porque “se voltasse lá, a escola ia quebrar”. “O mais grave foi o deputado ter anunciado a minha demissão como um troféu, antes mesmo de eu ser informada pela instituição. Desde então, estou tentando tomar as medidas jurídicas cabíveis, mas me preservar também. Li e continuo lendo muitas mensagens absurdas sobre o caso, quando, na verdade, só estava cumprindo meu papel de professor”, lamentou.

“É um sentimento coletivo de todos nós, professores. Há alunos também revoltados. Realmente foi uma atitude completamente irresponsável e criminosa. Eles não poderiam ter assumido o lugar do erro e do desrespeito, que foi o que fizeram. Não há a menor possibilidade de defesa de uma instituição que faz isso. É completamente contra tudo aquilo que uma escola, como instituição, precisa ser”, concluiu a educadora.

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