Professora explica detalhes do vídeo da pré-campanha de Lula: “Uso magistral”

Atualizado em 10 de maio de 2022 às 19:51

A professora de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Letícia Cesarino, escreveu uma thread nesta terça-feira (10) explicando detalhes do vídeo da pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ela destacou que todos aprovaram a peça e relatou passo a passo como isso pode impactar os eleitores.

Confira a thread abaixo:

Todos aprovaram o vídeo no lançamento da chapa Lula-Alckmin, e não é à toa! Foi feito um uso magistral da semiótica bolsonarista contra ela própria, mais precisamente, a função da mimese inversa.

A mimese inversa divide o mundo em 2 lados antagônicos, onde o inimigo é representado com a mesma forma, mas conteúdo invertido. Em vários textos, mostro como ela foi central nos memes bolsonaristas de 2018 (inclusive bati muito nessa tecla quando conversei com a comunicação do PT).

Não dá pra detalhar aqui, mas a mimese inversa é uma meta-função q bifurca ontologias em várias escalas. Embora do ponto de vista local pareça simétrica, do ponto de vista do sistema ela é hierárquica, pois o que está em disputa é o meta-enquadre englobante.

Este frame ilustra bem a disputa, e pra mim foi o ponto alto. Pois o bolsonarismo justamente funde a luta pela existência neoliberal-neodarwinista com a gramática militarista da guerra. E aqui, elas são de novo separadas e moralmente diferenciadas.

No lugar da gramática ultraliberal-reacionária que vê a prosperidade de um como só ocorrendo às custas do outro e vice-versa (reconhecimento bifurcado), a campanha recoloca a possibilidade de conceber a prosperidade de todos apostando na redistribuição (reconhecimento universal).

E de fato, essa é a ética cristã encapsulada na oração a São Francisco que, no bolsonarismo, foi englobada por leituras dispensacionalistas e de guerra santa. A mimese inversa propõe o reenglobamento desta última pela primeira, colocando novamente em primeiro plano os “comuns”.

Isso é estratégia? Sim. Mas também reflete valores espontâneos que cada lado abraça, e é isso em última instância que ressoará com cada eleitor. A esquerda nunca poderia usar as mesmas armas do bolsonarismo, pois implica cruzar linhas éticas e legais. Mas pelo visto não precisaremos.

Mais sobre mimese inversa, englobamento do contrário e os 2 tipos de reconhecimento no meu livrinho que está pra sair.

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