Programe-se: líder de movimento por moradia fala de festival em SP com palestras e shows neste fim de semana

Atualizado em 28 de setembro de 2018 às 18:47
Carmen (foto Max Alvim)

No próximo final de semana, dias 29 e 30, ocorrerá o Festival O Povo Pode, uma maratona de shows, intervenções artísticas e mesas que debaterão caminhos para uma democracia hoje em risco.

O evento trará ainda o lançamento de uma websérie e documentário homônimos ao festival, do diretor Max Alvim.

Toda a programação acontecerá na Ocupação 9 de Julho do Movimento Sem Teto do Centro (MSTC).

O DCM conversou com Carmen Silva, líder do MSTC. Carmen já foi conselheira municipal de Habitação entre outras funções participativas. Mas gosta mesmo de se apresentar como ‘uma cidadã ativista, nascida na Bahia, mas que conhece São Paulo como poucos’.

O nome do festival sugere uma afirmação ou uma pergunta. O que o povo pode?

O povo pode falar o que sente, o povo pode decidir o que é bom para si mesmo. Muitas  pessoas não sabem que têm o poder da decisão, o poder de parar de se sentir minoria, quando na realidade deve ter o entendimento de que é a maioria e tem o poder de designar a responsabilidade ao estado.

Qual a importância de eventos culturais nas ocupações, como isso colabora no relacionamento e aproximação com a comunidade? Vocês já têm aqui o projeto de cozinha colaborativa…

O MSTC tem a característica de atuar em rede. A cultura, a arte, sempre foram instrumentos de aproximação de todas as classes. Acertadamente, há 4 anos, quando eu voltei do festival do Saint Sebastian com o filme Era o Hotel Cambridge, tomei uma decisão junto ao movimento de nunca mais nos emparedarmos. Todas as nossas ocupações sempre seriam abertas a todos: população do entorno, outros setores e, principalmente, ter um entendimento da arte como vida. O movimento social não pode ser sectário. A partir deste entendimento obviamente só melhorou a relação com a sociedade.

Há muitas mulheres à frente de ocupações bem como de tantos movimentos sociais. As mulheres irão decidir a eleição?

A vontade das mulheres que estão engajadas na luta e têm um entendimento politico é grande, mas tem que haver uma percepção de que apesar de sermos 51% da população brasileira, nós precisamos dizer que 20 ou 30% ainda não se libertaram dos padrões ao qual a mulher foi designada: padrões machistas, sexistas. Mulheres que ainda se acham dependentes. Na rua a gente sente que tem um monte de mulheres ainda desinformadas.

Vou fazer o papel de advogada do diabo, mas sou muito realista e gosto de enfrentar a conjuntura em uma análise sólida para que eu possa vencer os obstáculos. Tem que haver ainda muita formação e informação, principalmente nos locais de grandes mazelas, onde as mulheres ainda vivem em situações muito críticas em relação a gênero, onde tem jornada dupla, cuidam de filho, trabalho e não se atentam para o que está acontecendo. Aceitam esta miséria que é incrustada nelas e não é uma miséria da fome, é uma miséria  social. Mas se depender de nós as mulheres decidem sim.

Qual o risco de um governo Bolsonaro para os movimentos sociais?

Nos já estamos correndo risco, todas as lideranças estão sendo criminalizadas. Eu mesma estou respondendo processo, estamos sendo intimados pelo DEIC. Vimos desde a prisão do Lula que os próximos a serem eliminados serão os movimentos sociais. Um Bolsonaro sendo eleito, nós que já vivemos um retrocesso em perda de direitos, imagina com ele? É preciso dizer que Bolsonaro é só um instrumento, assim como Temer. Eles estão a serviço de uma casta que tem o intuito de domínio. São os verdadeiros senhores feudais brasileiros. Mas acho importante falar que os movimentos sociais têm um papel fundamental de ressocialização, de politização e devolvemos ao estado cidadão plenos, conscientes de direitos, mas também de deveres.

Como estão as ocupações após o incêndio que culminou no desabamento do edifício no largo Paissandu? Houve um clamor solidário inicial acompanhado de um movimento no sentido de criminalizá-las.

Criminalizadas sempre foram. Agora, depois de toda esta comoção com o incêndio do Wilton Paes, o poder público chamou os movimentos sociais junto com alguns órgãos como a Defesa Civil, a Secretaria de Segurança Urbana, Corpo de Bombeiros, etc e aí ocorreram as vistorias em 70 ocupações. Eles ficaram surpresos com nossa organização. Há uma portaria de 16 de maio, dada pelo Bruno Covas, e há também um resultado desta vistoria. Estamos pleiteando que este resultado seja de mitigação, que se crie um grupo de trabalho permanente com assessoria técnica, poder público e movimentos. Que haja algumas intervenções de melhorias, mas isso vai ficar por nossa conta, é obvio.

Nós já fazemos estas melhorias. A tragédia trouxe à tona que quem está nas ocupações é realmente quem precisa de moradia. Nós estamos discutindo em toda a cidade ações para que estas ocupações sejam de fato legalizadas. Mas também ficou clara a ineficiência do poder público na produção efetiva da moradia. Se governantes cumprissem a constituição, se de fato exercessem a função de seus cargos, já teríamos sanado vários problemas.

Covas, em relação a Doria, significou mudança?

Nenhuma, o Covas não mudou nada. Está seguindo o ritual que o Dória deixou. Embora a Secretaria de Habitação, com o secretário atual, Fernando Chucre, seja eficiente. Temos diálogos sobre propostas de locação social, criação de grupo de mediação de conflito, dentro do conselho existem várias propostas para compra de imóveis vazios, a PPP municipal, a mediação entre a Eletropaulo e os movimentos… não podemos tirar o mérito desta Secretaria. 

A programação completa do Festival O Povo Pode (rua Alvaro de Carvalho, 427 – centro), está aqui:

PROGRAMAÇÃO

MESA_Resistência Artística_29/09_14h00 – 15h00

Laura Maringoni

Eliane Caffé 

Rafel Ferro

Priscila Pamela / mediação

MESA_Direito à moradia_29/09_15h30 – 16h30

Preta Ferreira

Luciana Bedeschi

Alexandre Hodapp

Walcir Felix / mediação

MESA_Morar sem teto dentro e fora do movimento_29/09, 17h00_18h00

Antonieta 

Adriana 

Alan Harrison Ferreira / mediação

MESA_Mulheres peitando o golpe_30/09_14h00-15h00

Ivanete Araújo

Hortense Mbuyi 

Josi Costa

Elisabete Afonso Pereira / mediação

MESA_O Golpe sobre as minorias maiorias_30/09_15h30 – 16h30

Sonia Barbosa

Salloma Salomão 

Gabriel Lodi

Daniela Neves / mediação

MESA_Democracia em risco_30/09, 17h00_18h00

Carmen Silva Ferreira

Valeska Teixeira

Gilberto Maringoni

Luis Nassif

Generosa Lima / mediação

AQUÁRIO_A comunicação como produção de um “comum”_29/09_15h30 – 17h00

Rogério da Costa

Ricardo Teixeira 

Lucas Bambozzi

Fabi Borges

AQUÁRIO_Desafios para a mídia: verdade ou mentira; compromisso ou isenção; como a política é indissociável da comunicação_30/09_15h30 – 17h00

Max Alvim

Luiz Augusto de Paulo Souza

Kiko Nogueira 

Luiz Parise

SHOWS_sábado_29/09: 

19h40 Ianomanos

20h00 Tamoyos

20h20 Samba Alegria

20h40 Batuque de Lara

21h00 Debora Cristian

21h20 Zé Cafofinho

21h40 Arismar

22h00 Criolo

SHOWS_domingo_30/09: 

19h40 Grupo Oh de Casa

20h00 Fernanda Ayme

20h20 Pitayas e Zé Pereira

20h40 Big Up

21h00 Guizado

21h20 Lucas Afonso

21h30 As Bahias e a Cozinha Mineira

21h50 Maria Gadu

22h10 Ana Cañas

OFICINAS E AÇÕES_sábado:  

Mario Deganelli, Liz Mantovani, Colera Alegria

OFICINAS E AÇÕES_domingo: 

Mariana Zanetti,  Anarquestra, Mapas Afetivos,  Rodrigo Bueno