
O “projeto” do empresário Pablo Marçal (PRTB) na África, usado como argumento para sua candidatura à prefeitura de São Paulo, não corresponde exatamente ao que é divulgado em entrevistas e debates. O coach promove a iniciativa como um exemplo de como planeja transformar a realidade de São Paulo, caso seja eleito.
Localizado em Camizungo, uma área rural a 50 km de Luanda, capital de Angola, o projeto foi criado pela ONG cristã brasileira Atos, que atua no país há 14 anos e é sustentada por cerca de mil doadores. Entre esses doadores estão a pastora Ana Paula Valadão, o jogador Felipe Anderson e a cantora Anitta, uma associação mencionada por Marçal, mas sem detalhes aprofundados.
Embora o ex-coach tenha sido o principal financiador desde que conheceu o projeto por meio de uma seguidora em 2019 e tenha contribuído para melhorias na comunidade, existem aspectos não divulgados publicamente que contrastam com a realidade.
De acordo com informações da Folha de S.Paulo, das quase 350 famílias que Marçal prometeu realocar utilizando mão de obra local, mais de 300 ainda residem em barracos de lata, que podem atingir temperaturas de até 50°C durante o dia. Além disso, a infraestrutura de água e energia prometida muitas vezes não chega nem às 42 casas construídas até o momento, o que tem causado novos conflitos por terra.

Em um vídeo de 2020, Marçal é mostrado oferecendo água a crianças angolanas e prometendo a perfuração de um poço. No entanto, o poço financiado na vila de Ombu, a apenas 15 minutos de distância, encontrou água contaminada com óleo ao atingir 90 metros de profundidade. A solução atual é captar água de um lago distante 1 km, com um custo estimado de R$ 250 mil, e a obra ainda está em fase de orçamento.
Outra declaração de Marçal que omite nuances é a respeito da eletricidade na região. “Eu doei a rede elétrica”, afirmou o influenciador à Revista Oeste na última terça-feira (10). Entretanto, Pedro Fortaleza, coordenador da associação de moradores, explica que a iluminação ainda é insuficiente para as necessidades básicas, como ligar a televisão.
“Há um ano chegou a energia, mas só no imóvel da instituição [ONG]. Em 2022, o administrador municipal nos doou 30 postes de madeira. Depois, fizemos uma contribuição [vaquinha] para comprar os cabos”, disse.
Além disso, o surgimento do projeto trouxe mais famílias em situação de extrema pobreza para a área, alimentadas pela esperança de serem beneficiadas, resultando na construção de mais barracos de lata ao lado das novas casas de tijolos ecológicos.
A ONG relata que, em algumas partes, ainda há cenas de crianças comendo em meio a ratos, e que o governo local acompanha a situação, com as famílias originais devidamente cadastradas.
Assista abaixo: