“Projeto era fazer ciência, mas a Secretaria nunca entendeu”, diz ao DCM diretor do Planetário de SP demitido por Diário Oficial

Atualizado em 6 de maio de 2019 às 15:58
O secretário Eduardo de Castro (Foto: Reprodução)

POR VINÍCIUS SEGALLA

A Secretaria municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo está sem diretor para cuidar de seus dois planetários, localizados no parque do Carmo e do Ibirapuera.

O chefe da área, Fernando Nascimento, bem como seu coordenador pedagógico, Otavio Augusto Triverio Dias, foram demitidos na última sexta-feira (3), via Diário Oficial, sem reunião, sem mensagem de e-mail, sem nada.

“Não recebi uma ligação, uma mensagem ou mesmo uma mensagem de WhatsApp, nem do secretário nem de ninguém”, resume Fernando Nascimento. “Quando fui buscar minhas coisas na sexta-feira, tudo que me disseram é que ninguém sabia o motivo da minha demissão.”

A equipe que cuida dos dois equipamentos públicos, então, restou órfã. Os 11 funcionários restantes ouviram, na mesma sexta-feira, da diretora do Departamento de Educação Ambiental (acima de Fernando na hierarquia da pasta), Meire Aparecida Fonseca de Abreu, que ela fora apenas informada das demissões, e não tinha ideia dos motivos que levaram o secretário Eduardo de Castro (filiado ao Partido da República, PR) a demitir os funcionários.

Assim, neste domingo (5), a equipe do Planetário, quase toda recrutada por Fernando Nascimento, resolveu protestar. O Planetário do Ibirapuera teria quatro sessões no equipamento abertas ao público (13h, 15h, 17h e 19h). Duas delas (15h e 17h) não aconteceram, porque os funcionários se rebelaram, como mostra a imagem abaixo. Orientaram ao público que procurassem a ouvidoria da Secretaria do Verde e Meio Ambiente.

Aí, então, o secretário Eduardo de Castro falou pela primeira vez sobre o tema. “Nós ligamos para ele de frente do planetário, para explicar por que estávamos fazendo aquele protesto e para que ele finalmente nos explicasse as demissões”, contou ao DCM um funcionário do Planetário que não quis se identificar, temendo represálias.

“Mas o secretário disse que nem mesmo ele sabia o motivo das demissões, e ameaçou com demissão em massa caso nosso protesto não fosse encerrado naquele momento”. Resultado: a sessão das 19h foi realizada.

A reportagem entrou em contato, então, com o secretário Castro, via Whatsapp. Em um primeiro momento, ele concordou em dar entrevista para explicar o caso. Logo depois, parou de responder às mensagens e não atendeu nenhuma das cinco ligações realizadas pelo DCM.

Assim, a reportagem ligou para a diretora de Educação Ambiental, Meire Aparecida Fonseca de Abreu. “Não posso falar nada a respeito. Só digo que não haverá mais demissões, e o Planetário vai seguir funcionando normalmente”, afirmou a funcionária, que ocupava o cargo de assistente de gestão de políticas públicas, com salário de R$ 2.100, antes de ser alçada ao posto de direção executiva na pasta.

Assista a video gravado em frente do Planetário Ibirapuera durante o protesto dos funcionários:

Só quem falou mesmo abertamente ao DCM foi Fernando Nascimento, o diretor demitido. Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista.

DCM – Por que você foi demitido?

Fernando Nascimento – Não sei, ninguém parece saber. Parece que alguém decidiu, mas não contou para ninguém o motivo.

DCM – Você pratica algum tipo de ação política que ultrapasse as atribuições previstas para o cargo?

Fernando Nascimento – Nenhuma. Não tenho interesse em fazer política. Sempre quisermos fazer ciência, promover a divulgação científica, mas a Secretaria do Verde parece que nunca entendeu isso.

DCM – Você tinha uma relação boa com o secretário Eduardo de Castro?

Fernando Nascimento – Embora cordial, praticamente nenhuma. A diretora de Educação Ambiental (Meire Abreu) não permitia este contato, ela considerava como quebra de hierarquia. Na semana passada, foi realizada uma locação do espaço (Planetário Ibirapuera), e estiveram presentes autoridades políticas e o prefeito Bruno Covas. Talvez o secretário tenha se sentido enciumado por não ter sido informado. Mas, se foi este o motivo da minha demissão, jamais me informaram.

(Nota da redação: o evento a que se refere nascimento foi o lançamento do canal de televisão Smithsonian Channel no Brasil, que contou com a participação do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, e de mensagens gravadas do governador João Doria e do prefeito Bruno Covas).

DCM – O que deverá acontecer agora com o Planetário? Você deixou informações de transição para o seu sucessor?

Fernando Nascimento – Não existe sucessor nenhum definido até agora. Pior do que isso: neste domingo, os funcionários me relataram que o secretário Castro disse que não teria problema nenhum em demitir todos os funcionários e deixar os planetários parados por meses, caso a equipe não voltasse imediatamente ao trabalho e deixasse de protestar. Não existe um compromisso com a continuidade dos serviços prestados à população.

DCM – O senhor teve alguma relação com os protestos deste domingo?

Fernando Nascimento – Nenhuma, fui informado do que estava acontecendo por telefone (esta informação foi confirmada ao DCM por dois funcionários que não quiseram se identificar. “Fizemos este processo porque estamos sem chão e achamos que temos direito a uma resposta”, disse um deles”).