EXCLUSIVO: A mão de empresário amigo de Mourão e fã de Dallagnol no “projeto de nação” dos militares

O empresário, um civil, tem conexões com atores golpistas no projeto de militares exposto pelo general Mourão

Atualizado em 28 de maio de 2022 às 22:32
Empresário Thomas Raymund Korontai e seu amigo general Mourão
Empresário Thomas Raymund Korontai e seu amigo general Mourão. Foto: Reprodução

Thomas Raymund Korontai é um empresário de 64 anos com várias empresas em Curitiba. Ele é presidente do Instituto Federalista, a entidade civil que assina o Projeto de Nação, lançado por setores militares em maio, com o Instituto General Villas-Boas e o Instituto Sagres.

O projeto, esmiuçado pelo jornal O Estado de S. Paulo, defende manter militares nas estruturas de governo até o ano de 2035, além do fim da gratuidade do SUS, das universidades públicas e combate ao globalismo.

Essa iniciativa golpista foi lançada em um evento no dia 19 de maio com a presença do vice-presidente, o general Hamilton Mourão. O projeto foi coordenado pelo general Luiz Eduardo Rocha Paiva, ex-presidente do grupo Terrorismo Nunca Mais (Ternuma), a ONG do falecido coronel e torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Korontai é admirador e tem uma amizade de longa data com o general Mourão. Diferentes fontes explicaram ao DCM que ele viajou a Brasília em várias ocasiões para reuniões com o vice. Há registros no Facebook dele.

Reunião com Mourão. Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Fã de Olavo, empresário quer o federalismo no Brasil

Filho de húngaros anticomunistas, Thomas Korontai fundou o Instituto Federalista em 17 de outubro de 1991. Nunca se fixou na política tradicional e hoje está filiado ao PTB, o partido bolsonarista liderado pelo presidiário Roberto Jefferson.

A ideia de Korontai é mudar a Constituição brasileira e “implantar o federalismo”, nos moldes dos Estados Unidos, no Brasil. 

O instituto virou o Partido Federalista no Brasil, não oficializado. Segundo reportagem do Intercept Brasil em 17 de julho de 2021, Thomas Korontai tentou ser candidato a presidente mesmo sem ter situação regularizada prometendo “extinguir o MEC”.

Suas empresas ativas são a KOMARCA ESCRITORIO DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL S/C LTDA e a ACQUAPRATA ELETRONICOS ESPECIAIS LTDA. Os negócios foram abertos, respectivamente, em 1991 e 2010.

A RK33 COMERCIO E SERVICOS DE CONSULTORIA E PARTICIPACOES LTDA, aberta em 2008, é uma empresa que ele tem com o empresário libanês filho do fundador da Liga Cristã Mundial Brasil, Michel Iskandar Riachi.

Fontes asseguram que Riachi e Korontai foram fazer negócios na Bolívia em 2019, época do golpe de Estado que derrubou o governo de esquerda e colocou no poder a extremista de direita Jeanine Áñez. 

Oriundos do setor industrial e de eletrônicos, os dois sócios tentaram negociar armas e helicópteros “do Oriente Médio” na Bolívia, segundo essas fontes. A aventura não deu certo e gerou dívidas.

Fracassos nos negócios levaram Korontai a se lançar pré-candidato a deputado federal pelo PTB de Curitiba. Decidido a conquistar o eleitorado bolsonarista, fez um elogio ao guru Olavo de Carvalho um dia após sua morte. Chamou-o de “gigante”.

“Tive a honra de conhecer o Olavo de Carvalho em 2005, ainda em Curitiba, quando jantei na casa dele. Alguns meses depois, horas antes de ele partir para os EUA, conversamos sobre os rumos do Brasil e sobre federalismo. Foi consenso entre nós que ele não poderia apoiar publicamente, na época, o nosso Movimento, pois entendia que tais ideias precisavam transitar livremente, sem rótulos ideológicos, e sem polarizações. Após 2010, nos encontramos algumas vezes em videoconferências”, escreveu no Instagram em 25 de janeiro de 2022.

Post de Korontai sobre Olavo de Carvalho. Foto: Reprodução

Em 17 de março, Korontai elogiou o falecido Cabo Anselmo. “Descanse em paz, meu caro amigo, Cabo Anselmo. Na vida polêmica e tida como ambígua nos idos da década de 60, você terminou por prestar um serviço inestimável para o Brasil, escolhendo o lado do Bem. Deus sabe disso. Eu também. Um abraço e até um dia”.

Post de Korontai sobre Cabo Anselmo. Foto: Reprodução

Ligações com lavajatistas e discurso negacionista do empresário

Thomas Korontai foi apoiador do golpe contra Dilma Rousseff em 2016 e se tornou fã da Força-Tarefa da Operação Lava Jato. Por seu ativismo político nas ruas e digital, ganhou espaço para escrever artigos de opinião no jornal Gazeta do Povo e se aproximou de políticos curitibanos amigos de Moro.

Thomas Korontai com Álvaro Dias
Com Guilherme Doring Cunha Pereira, dono da Gazeta do Povo
Com Dallagnol

Álvaro Dias, Deltan Dallagnol e Janaina Paschoal foram algumas das pessoas com quem Korontai marcou encontros para apresentar seus “ideais federalistas” – que nada mais são do que uma cópia fajuta da Constituição dos EUA. No ano de 2017, de acordo com fontes consultadas pelo DCM, ele viajou para a Europa com Hermes Freitas Magnus, o primeiro denunciante da Lava Jato. Não há fotos dessa viagem porque Magnus diz que é “perseguido” e hoje vive no exterior.

Em outubro de 2018, Thomas Korontai fez ataques públicos ao ex-presidente Lula e já estava se encontrando com general Rocha Paiva, um dos autores do projeto golpista de militares. Era época da ascensão de Jair Bolsonaro.

Post de Korontai com ataques a Lula e encontro com general Rocha Paiva. Foto: Reprodução

Ao longo da pandemia do novo coronavírus, entre 2020 e 2021, Korontai fez propaganda em suas redes sociais pelo voto impresso, bandeira que sempre defendeu, atacando as urnas eletrônicas. E ele também fez a defesa do discurso negacionista do governo Bolsonaro, além do protesto golpista de 7 de setembro.

Chamou as máscaras contra a propagação do novo coronavírus de “focinheiras”. Comparou a campanha de vacinação com o próprio nazismo, utilizando uma ilustração de uma suástica.

A militância bolsonarista de Korontai no Facebook
Korontai chamou máscaras de “focinheiras” e comparou campanha de vacinação ao nazismo

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