Promotor da Justiça Militar de SP: “PMs estão atirando mais, mesmo quando não matam”

Atualizado em 5 de dezembro de 2024 às 9:17
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o secretário de Segurança Pública paulista, Guilherme Derrite. Foto: reprodução

Promotores da Justiça Militar de São Paulo demonstram preocupação com o que consideram uma “mudança na cultura da PM” paulista, apontando para um aumento nos casos de violência policial registrados nos últimos dois anos, conforme informações da Folha de S.Paulo.

Esse período coincide com o início do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e da gestão de Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública. Derrite, capitão reformado da PM desligado da Rota por excesso de mortes, é acusado de incentivar confrontos e o uso letal da força, além de adotar uma postura mais branda em relação a punições por desvios do procedimento operacional padrão.

“Até 2022, quem estava prestigiado na corporação eram comandantes de perfil legalista, que prezam pelo cumprimento das regras e o respeito à hierarquia e à disciplina. Disso resultou uma queda da letalidade policial”, avalia o promotor Marcel Del Bianco Cestaro, que há sete anos atua no Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo (TJM-SP).

Ele destaca que, entre 2020 e 2021, as mortes provocadas por policiais caíram de 814 para 570, uma redução de 30%. “Após 2022, com o novo secretário, vimos um movimento contrário. A impressão é a de que a abordagem violenta aumentou porque houve um aumento dos casos de interação com uso de arma de fogo. Os policiais estão atirando mais, mesmo quando não matam”, afirma Cestaro.

Os relatos dos promotores encontram respaldo em incidentes recentes documentados por câmeras de segurança. Em novembro, o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, foi morto à queima-roupa por um policial militar após dar um tapa no retrovisor de uma viatura e resistir à prisão dentro de um hotel.

Outros episódios que geraram repercussão incluem o caso de policiais militares que jogaram um homem de uma ponte na zona sul de São Paulo e a morte de um homem baleado por um policial à paisana após furtar sabão em pó.

Para Cestaro, a mudança na cultura da PM prejudica tanto a corporação quanto o serviço prestado à sociedade. “Ser leniente com a violência não vai gerar uma polícia combativa e íntegra. O comando que não cobra o respeito às normas, como o uso correto da câmera operacional e da força letal, passa uma cultura de desrespeito que estimula a violência e a corrupção policial”, avalia o promotor.

Por outro lado, a Secretaria da Segurança Pública nega qualquer mudança na abordagem policial: “Todas [as forças] continuam atuando sob o absoluto rigor da lei e o respeito aos direitos humanos. As polícias do estado não compactuam com desvios de conduta de seus agentes, punindo exemplarmente àqueles que infringem a lei”.