
O plano discutido na cúpula no Alasca entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gira em torno da tentativa de convencer Kiev a abrir mão do Donbass, região industrial no leste da Ucrânia que se tornou símbolo da guerra e do impasse entre os dois países.
De maioria tradicionalmente russófona, o Donbass — que compreende as províncias de Donetsk e Luhansk — sempre teve peso estratégico e econômico. A região concentra minas de carvão, siderúrgicas, indústrias pesadas e infraestrutura logística vital para a economia ucraniana. Durante a União Soviética, era considerada um dos centros de produção mais importantes do bloco, e até hoje mantém forte presença cultural russa.
Putin afirma que o Donbass representa uma das “causas fundamentais” do conflito, alegando perseguição contra a população de origem russa e exigindo a incorporação da área ao território controlado por Moscou. Desde 2014, o Kremlin tenta consolidar esse domínio: primeiro por meio de grupos separatistas armados, depois com o apoio militar direto que levou à invasão de 2022.

O Donbass também tem peso simbólico. Para Moscou, representa a correção de um “erro histórico” e a expansão da chamada “Nova Rússia”, conceito associado ao império czarista e à nostalgia soviética.
Desde a invasão em larga escala, a região se tornou palco das batalhas mais sangrentas da guerra, em cidades como Mariupol, Bakhmut e Severodonetsk. Os combates resultaram em destruição em massa, com milhares de civis mortos e milhões de deslocados. A infraestrutura foi devastada, transformando centros urbanos inteiros em ruínas.
De acordo com o grupo ucraniano DeepState, que acompanha os avanços no campo de batalha, Moscou e seus aliados separatistas controlam atualmente cerca de 87% do Donbass. Restam pouco mais de 6.700 km² sob domínio ucraniano, que vêm sendo atacados de forma intensa, à custa de grandes perdas para as forças russas.
A importância militar da região também é evidente: o Donbass serve como elo entre o território russo e a Crimeia, permitindo uma linha terrestre de abastecimento contínuo. Se Kiev perder completamente a área, ficaria enfraquecida não apenas economicamente, mas também em termos de capacidade defensiva e de negociação política.
Analistas militares apontam que, sem um cessar-fogo, a guerra no Donbass deve se prolongar até 2026, com custo de dezenas de milhares de vidas. O destino da região pode definir não só o desfecho do conflito, mas também o futuro da segurança europeia e da ordem internacional.