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PSDB propõe fim do Estado brasileiro no programa de Alckmin. Por Geraldo Seabra

Geraldo Alckmin, do PSDB. Foto: Divulgação/Flickr Governo do Estado de SP

Não é mais o Estado mínimo, agora é Estado nenhum. Foi o que deixou claro o economista Pérsio Arida, coordenador do programa de governo do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB-Centrão), na entrevista concedida na noite de ontem (22) ao programa Central das Eleições, da Globonews.

A entrevista com Pérsio Arida foi a terceira levada ao ar pela emissora, que durante esta semana está ouvindo os assessores econômicos dos candidatos a presidente da República na eleição de outubro. Antes, foram entrevistados Guilherme Mello, do PT, e Mauro Benevides Filho, do PDT.

Diante de um contingente de 27,6 milhões de trabalhadores sem ocupação, segundo divulgou na semana passada o IBGE, Pérsio Arida disse que o programa de Geraldo Alckmin não contempla nenhum projeto para a geração de empregos, a curto, a médio nem a longo prazo, e que a duplicação da renda do trabalhador, prometida pelo candidato do PSDB-Centrão, só ocorrerá em 20 anos.

“Não é assim que se resolve o problema. Isso não é função do governo, emprego não cai do céu, alguém gera, e quem faz isso é a iniciativa privada”, disse o economista, um dos pais do Plano Real. “Os empregos virão de investimentos privados e da reforma trabalhista, que ainda dará resultados”. Além disso, acenou com a retirada de “penduricalhos” na folha de salários  e a redução da contribuição patronal.

Sobre a Previdência Social, disse que a reforma terá por alvo o equilíbrio atuarial tanto do sistema do  INSS quanto o dos servidores públicos, que serão tratados separadamente. “Só há duas formas de fazer o ajuste, no benefício ou na alíquota de contribuição. E o brasileiro não quer saber de ajustar o benefício”.

Além de confirmar a extinção do Ministério do Trabalho, Pérsio Arida anunciou a criação de um superministério do Desenvolvimento Social, onde seriam concentrados todos os programas sociais, do Bolsa Família ao Seguro Desemprego. “Será mais fácil fiscalizar e enxugar esses programas”, disse.

Arida disse que como não existe dinheiro para nenhum investimento público, um eventual governo de Geraldo Alckmin vai retomar o programa de privatizações que Fernando Henrique Cardoso aplicou em seus dois governos do PSDB, no século passado (1994-2002).

“Só não serão privatizados o Banco do Brasil e a Petrobras, mas na estatal vamos quebrar o monopólio do refino”. Segundo ele, as refinarias brasileiras precisam ser abertas à competição para possibilitar uma política de preços dos derivados de petróleo sem subsídios governamentais. Adiantou que o acordo do diesel com os caminhoneiros não será renovado numa gestão tucana.

Para atrair investimentos Arida disse que será preciso “retirar toda e qualquer hostilidade de resistência ao capital estrangeiro”. “Aumentaremos o capital da Transnordestina e chamaremos a iniciativa privada para ser acionista; quem alocar mais recursos vai ser o novo controlador da empresa”, exemplificou.

Arida disse ainda que não faz nenhuma restrição aos investimentos chineses, preocupação recorrente do candidato Jair Bolsonaro (PSL), principal adversário de Alckmin na corrida para chegar ao segundo turno. “Eles podem comprar uma hidrelétrica aqui, mas não vão leva-la para a China”.

Ele negou intenção de um eventual governo Alckmin de criar novos impostos porque “nossa carga tributária já é muito alta”. Mas admitiu uma reforma para simplificar o sistema tributário e o aumento da carga “para alguma parte mais rica” dos contribuintes. “O ajuste fiscal virá por corte de custos, vamos demitir, tem gente em excesso”.

Arida negou independência para o Banco Central, disse que a queda dos juros será buscada com uma maior concorrência entre os bancos e que a indústria brasileira terá de se acostumar com o fim da proteção tributária.

Alegou que o Orçamento não pode crescer mais que a inflação e defendeu liberdade para a política econômica. “A gestão econômica não pode ser engessada pela Constituição”, disse, ao responder sobre as despesas obrigatórias, ou vinculadas, como educação, saúde, seguridade social, salários e juros.

Pérsio Arida manifestou confiança em aprovação pelo Congresso Nacional das medidas econômicas que vierem a ser propostas se Alckmin vencer a eleição. “Não podemos desprezar o poder de um presidente da República recém-eleito. Collor decretou o confisco da poupança, no que foi aprovado até pelo Supremo”, lembrou.

O programa do PSDB, como se observa das respostas de Arida, está com olho no retrovisor. Mas enxergando um século atrás do último governo tucano, quando o liberalismo laissez-faire ignorava as angústias da sociedade e privilegiava o direito da propriedade, como, e não é por coincidência, também defende Jair Bolsonaro.

Geraldo Seabra

Jornalista, com passagens por Estadão, Veja, O Globo, Correio Braziliense, entre outros. Email: gseabra@uol.com.br

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