PT, o maior partido pequeno do mundo. Por Gilberto Maringoni

Atualizado em 1 de agosto de 2018 às 22:08
Logotipo do PT. Foto: Divulgação

Publicado originalmente na perfil de Facebook do autor

POR GILBERTO MARINGONI

O PT tem uma história admirável e – por vezes – heroica. Tirou milhões da miséria e fez pelo menos uma gestão nacional – 2006-10 – admirável.

Mas o PT, surpreendentemente, tem vocação inequívoca para a mediocridade e para a irresponsabilidade. Se quisermos ser benevolentes e elegantes, essa é a conclusão que se chega ao se examinar o acordo perpetrado com o PSB em plano nacional, na tarde desta terça (1).

Pelo que foi acertado, o PT retira a candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco em favor do atual governador Paulo Câmara. Detalhe: Marília está em empate técnico nas pesquisas com o postulante do PSB.

Em troca, o PT ganha dois passarinhos voando: o apoio de Márcio Lacerda, ex-prefeito de BH, a Fernando Pimentel para a disputa em Minas. Detalhe: Pimentel está em segundo lugar nas pesquisas, bem atrás do tucano Antonio Anastasia, e Lacerda se esfalfa em terceiro. O outro passarinho é a promessa de neutralidade – seja lá o que isso queira dizer – do PSB na eleição presidencial. Há acordos menores no Amazonas, Paraíba e Amapá.

O preço é salgado: a direção do PT periga destruir o partido numa das principais unidades da federação sem a garantia de coisa alguma nas alterosas. De quebra, pode desmoralizá-lo diante de importantes setores da população.

O PSB E O GOLPE

Os passarinhos poderão voar muito, uma vez que os autodenominados socialistas formam uma federação de interesses regionais, em geral alinhados à direita. Basta lembrar que, na votação do impeachment de Dilma, apenas três de 32 deputados na legenda se colocaram contra a patranha. A maioria da bancada, 29 parlamentares, apoiou o golpe.

Não é exagero dizer que o PT selou um acordo eleitoral com golpistas. Fosse apenas isso, já seria escandaloso, mas nada muito estranho para quem conhece o PT real. Dono da maior bancada da Câmara, o partido negocia migalhas pelos estados, em busca da manutenção de mandatos a todo custo. Nada a ver com proclamas altissonantes de alguns dirigentes nacionais nas proximidades da sede da Polícia Federal, em Curitiba.

O OBJETIVO REAL

O objetivo real do PT com essa pirueta inexplicável não é soltar Lula da prisão, deter o golpe, o entreguismo e dar um basta ao desespero da maioria da população brasileira.

O objetivo não é formar uma frente contra o retrocesso e o golpe.

O objetivo é isolar Ciro Gomes.

Sim, isolar Ciro, que negociava uma chapa com o PSB. E como se isola Ciro? Impedindo que ele tenha maior tempo de TV e chapas nos estados. Compor com o pedetista nem pensar.

Ciro é um aliado complicado. Tem muito do histrionismo de Leonel Brizola, um programa nacionalista, mas não o talento do bravo gaúcho. É mercurial, fala mais do que deveria, mas inegavelmente situa-se no terreno do antigolpismo. Seria um aliado potencial.

Por que acontece a recusa?

PURISMO INICIAL

Lembremos aqui. O PT dos anos 1980 não fazia frentes com ninguém. Alegava um purismo udenista para não se aliar a partidos “burgueses” ou envolvidos em escândalos de corrupção. Na verdade, os seguidores de Lula investiam fundo em sua autoconstrução, num momento em que a ascensão das lutas populares facilitavam seu crescimento.A manutenção da estrutura estava acima de tudo.

O PT só foi capaz de fazer frentes na década seguinte, quando era inequívoca sua hegemonia no campo popular. Aceitava ceder cabeças de chapa regionais ou locais, jamais abrindo mão de estar à testa de coligações nacionais. Deu-se ao luxo de recusar o apoio – sublinhe-se “apoio” – de Ulysses Guimarães contra Collor de Mello, em 1989.

O PT cresceu, tem trajetória exemplar, é um dos maiores partidos de centroesquerda do mundo, mas segue com sua recusa real a montar frentes.

MIUDEZAS

Voltemos a pergunta: por que o PT repele Ciro mais que qualquer coisa?

Porque Ciro – com Lula inabilitado – disputa o eleitorado petista. E isso não pode, para um agrupamento que, mais do que tudo, deseja seguir hegemônico entre a esquerda.

Em tempos anormais, debaixo de um golpe que está desmontando o Estado brasileiro e arrebentando com a sociedade, o Partido dos Trabalhadores pensa primeiro em seus interesses particulares, em seus votos e em sua estrutura.

É um contraste com a generosidade e solidariedade de milhões de brasileiros que apoiam Lula e desejam apenas um país melhor para viver e criar os filhos.

O PT pensa e age como um partido pequeno. Numa disputa em que a extrema-direita ou o financismo ultraliberal podem destruir o Brasil, o PT cuida das suas coisinhas e de suas miudezas.

P.S. No início da note, Marcio Lacerda lançou uma nota, afirmando desconhecer qualquer compromisso formado pela direção do PSB:

“Na tarde de hoje fui surpreendido pelo meu partido, o PSB, que através do seu presidente Carlos Siqueira, que ao contrário de diversas manifestações anteriores onde disse clara e publicamente que a nossa candidatura era uma das prioridades do partido, veio a Belo Horizonte comunicar que a direção nacional do partido tomou a decisão política de alinhamento com o PT em Minas Gerais. A mim foi oferecida, como alternativa à candidatura ao governo do Estado, a candidatura ao Senado em uma composição com o Partido dos Trabalhadores, sugestão com a qual prontamente discordei.

Recebi esta comunicação com indignação, perplexidade, revolta e desprezo”.