PT: o mais importante do país, a espinha dorsal da democracia. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 22 de fevereiro de 2023 às 0:13
Imagem de manifestação à favor do Partido dos Trabalhadores. (Foto: Reprodução)

O partido que fez aniversário na sexta é o mais importante do país e a espinha dorsal da democracia brasileira. Mas se encontra em uma (nova) encruzilhada.

Quando surgiu, o PT parecia destinado a ser um ator marginal da política brasileira. Era uma experiência interessante, um partido voltado a dar voz aos movimentos populares em vez de enquadrá-los em esquema prévios, com um projeto radical de democracia interna. Mas também parecia ingênuo, purista.

Nas eleições gerais de 1982, a primeira de que participou, elegeu apenas oito deputados federais, um prefeito, nenhum governador ou senador. Lula ficou em penúltimo lugar na eleição para o governo paulista. O PT era, de longe, o menor dos cinco partidos então existentes.

Já em 1983, começou a inflexão pragmática, com o Manifesto dos 113 e a formação da Articulação. Os núcleos de base foram perdendo força conforme o partido foi conquistando mais mandatos.

Quando Lula chegou ao segundo turno das eleições de 1989, o PT ganhou de vez a posição de principal partido da esquerda brasileira. E também um novo propósito: parecia que vencer uma disputa presidencial era um caminho mais curto para promover a transformação social do que a lenta mobilização de massas na qual apostava até então.

Nas eleições seguintes, Lula seguiu um caminho de crescente moderação. Quando enfim venceu, em 2002, já estava aliado a políticos de direita, com um programa despido de qualquer radicalidade.

Os governos do PT foram desmobilizadores e dispostos a jogar o jogo da “governabilidade” sem mexer em suas regras. Estavam dispostos a sacrificar tudo em favor de uma única prioridade: combater a fome, a miséria, a desesperança dos milhões de brasileiros mais pobres. Esta foi sua grandeza e também seu limite.

Nascido com a ambição de se diferenciar da oposição burguesa à ditadura militar, crítico feroz dos limites da transição à democracia, o PT acabou por se tornar o partido da Nova República. Buscava avançar nas linhas da Constituição de 1988 sem deixar de reproduzir as práticas políticas correntes; efetivar o núcleo republicano, pluralista e igualitário da Carta sem superar as contradições nela presentes.

O PT deixou de lado seu projeto original para ser aquilo que teria sido o PMDB, se o PMDB não tivesse perdido identidade e sucumbido ao oportunismo.

Só quem vive em condições muito seguras e privilegiadas é capaz de desdenhar dos avanços dos governos petistas. Milhões de pessoas deixaram de passar fome, ganharam acesso à energia elétrica, puderam sonhar com cursar uma faculdade. Isso é muito.

Mas nem toda a prudência petista, nem toda a vontade de evitar embates, impediu que o progresso social gerasse desconforto nos grupos dominantes. O golpe derrubou Dilma, a Conspiração Lava Jato prendeu Lula, nossa burguesia não teve vergonha de abraçar um Bolsonaro, tudo para destruir o PT.

O PT sobreviveu, demonstrando a força de seu enraizamento social, ganhou as eleições, voltou ao governo.

Mas as circunstâncias são outras e o duro aprendizado dos últimos anos não pode ser desperdiçado. Para recuperar o que foi perdido e avançar mais, é preciso retomar capacidade de mobilização e reforçar os laços com o movimento popular. Esse é o desafio do aniversariante.

Originalmente publicado no Facebook do autor

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Luís Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.