Punk por quê? O chilique de Billie Joe Armstrong foi mais patético do que heróico

Atualizado em 11 de janeiro de 2013 às 16:33

“Eu não sou o porra do Justin Bieber”.

O piti de Billie Joe Armstrong, cantor da banda Green Day, correu o mundo. No fim de semana, o site iHeartRadio, que pertence ao grupo Clear Channel Broadcasting, patrocinou um megafestival em Las Vegas. Ao ser avisado de que teria apenas mais um minuto para tocar, através de um placar eletrônico em frente ao palco, Billie Joe ficou irritado, interrompeu a performance e começou um discurso cheio de “fucks”. No final, quebrou a guitarra em pedaços, disse que não era Justin Bieber e atirou longe o microfone. “Nós estamos aí desde os anos 80”, reclamou. No dia seguinte, internou-se numa clínica de reabilitação. O site oficial do Green Day fez um mea culpa: “Queremos dizer a todos que o nosso ‘set’ não foi encurtado pela Clear Channel e pedir desculpas a todos os que se sentiram ofendidos”.

Houve quem visse nisso um sinal de que o punk não estava morto. É o contrário. Que punk toca num evento de um conglomerado de comunicação? Que punk pede perdão depois de quebrar um instrumento? Quanto ao rehab, é uma questão de sobrevivência. E Billie Joe é isso: um sobrevivente numa banda cujos melhores dias já ficaram para trás.

Billie Joe tem 40 anos (o baixista Mike Dirnt e o baterista Tré Cool também) e veste-se como Davi, meu filho de 12. Davi, aliás, insistiu que eu o levasse para ver o show deles em São Paulo no ano retrasado. Nós fomos, com alguns amigos dele. Um sucesso. Mas passou. Davi não tomou conhecimento do último disco, Uno, o primeiro de uma trilogia. Não só ele. O single novo, Oh Love, ficou em 97 na lista dos 100 Mais da Billboard. O Green Day ainda tem fãs fieis, mas muitos deles parecem cansados das músicas demasiado parecidas, tocadas do mesmo jeito. O que os atrai ainda são os hits do início de carreira, como Time Of Your Life, Welcome to Paradise e Basket Case (durante a qual aconteceu a coisa toda).

É uma carreira respeitável, mas a fila andou. Não foi por falta de tentativa do trio de Billie Joe. Eles fizeram trilhas de comerciais, montaram uma peça na Broadway, ficaram ricos e jogaram o jogo como Rihanna, Lady Gaga ou Justin Bieber. Até aí, absolutamente nenhum problema. Está tudo combinado. Só não vale, depois, ter chilique. O Green Day não é mais punk stricto sensu e até os roadies sabem disso. Kurt Cobain não quis “entrar para o sistema” e se matou.

Talvez Billie Joe esteja atravessando a crise dos 40. Talvez ele se olhe no espelho e se pergunte no que se transformou, preso a uma caricatura de Joey Ramone, apenas mais baixinho e com sombra nos olhos. Talvez ele tenha pensado em tantos roqueiros que fizeram a transição para a maturidade sem perder a espontaneidade e o talento. Talvez ele tenha tido, afinal, uma real indignação do punk rock.
De qualquer maneira, foi mais patético do que heróico.

A crise dos 40 não é mole