Quaest: 72% da população do RJ apoia enquadrar facções como terroristas

Atualizado em 3 de novembro de 2025 às 7:35
Criminosos fazem barricada com carros queimados — Foto: Mauro Pimentel/AFP

A proposta de equiparar facções criminosas a organizações terroristas tem apoio de 72% dos moradores do Rio de Janeiro, segundo pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta segunda-feira (3), pelo jornal O Globo. O debate voltou à pauta após a megaoperação policial que deixou 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão, na última terça-feira (28).

A sondagem também indica ampla adesão da população fluminense a medidas de endurecimento penal, hoje em disputa entre governo e oposição.

O apoio à equiparação é majoritário em todos os segmentos, mas varia conforme o perfil ideológico dos eleitores. Entre os que se identificam como independentes, o índice chega a 74%, enquanto entre bolsonaristas e pessoas que se declaram de direita, o apoio atinge 91% e 95%, respectivamente.

Entre os eleitores do presidente Lula (PT), que é contrário à medida, a aprovação é de 49%, e entre os que se dizem de esquerda, de 36%.

A tese inicial de classificar facções criminosas, entre elas o Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC), como grupo terrroristas, surgiu do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O entendimento do governo petista é que o consentimento facilitaria ações dos EUA no Brasil sob o pretexto de combater o terrorismo, como faz em países do Oriente Médio.

Avanço no Congresso e resistência do governo

O texto da proposta, de autoria do deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), foi apresentado em março e tramita na Câmara dos Deputados.

Após a chacina no Rio, o tema ganhou força e passou por mudanças na relatoria: o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) foi substituído pelo secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite (PP-SP), que se licenciará do cargo no governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para retomar o mandato parlamentar e conduzir o debate.

A proposta prevê classificar as facções como grupos terroristas e endurecer penas para o uso de armamentos de guerra, barricadas e domínio territorial.

Paralelamente, o Ministério da Justiça trabalha para aprovar um “pacote antifacção”, elaborado pelo ministro Ricardo Lewandowski, que cria o tipo penal de “organização criminosa qualificada”. Em casos de homicídio, a pena pode chegar a 30 anos de prisão.

Segundo a pesquisa, 85% dos entrevistados apoiam o aumento de pena para homicídios cometidos a mando de facções, enquanto apenas 10% são contrários.

Guilherme Derrite e Tarcísio de Freitas em ato bolsonarista. Foto: reprodução

Fim das saidinhas e outras medidas de endurecimento

A pesquisa também revelou que 53% dos fluminenses são favoráveis ao fim das saídas temporárias de presos, conhecidas como “saidinhas”, mesmo para detentos de bom comportamento. Outros 62% defendem a retirada do direito a visitas íntimas para presos ligados a facções criminosas.

Já a PEC da Segurança, proposta por Lewandowski para ampliar a cooperação entre forças policiais e o papel da União na formulação de políticas públicas, tem aprovação de 52% e rejeição de 29%. De acordo com o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest, os resultados mostram que a segurança pública pode fortalecer candidatos da direita nas eleições de 2026.

“Se o eleitor for para a urna pautado pela segurança pública, tende a votar nas propostas da direita, como aumento de pena, enquadramento como terrorismo e restrição de direitos de presos. Se o debate for esse, e não a discussão econômica, a direita leva vantagem”, afirmou Nunes.

A pesquisa Genial/Quaest ouviu 1.500 pessoas entre 30 e 31 de outubro em quarenta municípios do Rio de Janeiro. A margem de erro é de três pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%.

Gráfico mostra que 72% dos fluminenses aprovam equiparar facções a grupos terroristas. Foto: reprodução
Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.